quinta-feira, 23 de julho de 2009

Matérias publicadas de 3 de junho a 9 de julho

CRISE DE CONFIANÇA


Folha de S. Paulo – 3.6.09


PAINEL


O impasse na instalação da CPI da Petrobras pode ser resumido assim: o PMDB não confia no PT, e a recíproca é verdadeira. Renan Calheiros quer reduzir ao máximo a margem de manobra dos petistas na comissão por acreditar que, para se livrarem do pior, eles jogarão o foco da investigação sobre os setores da empresa comandados pelo PMDB.


A mesma lógica leva o PT a concluir que, se não assegurar um dos postos de comando da CPI, serão mais expostos os seus quadros na estatal. O partido teme especialmente por Wilson Santarosa, gerente de Comunicação Institucional. Um único objetivo une as duas siglas: não deixar a investigação andar.


R$ 19 NO MEIO DA BRIGA


Correio Braziliense – 3.6.09


A Plataforma P-36 foi a pique em março de 2001, num dos maiores prejuízos registrados pela Petrobras. O acidente repercute ainda hoje. Há pelo menos três processos relativos ao episódio, em questionamentos tributários e ambientais. Somados, formam um passivo estimado pelos próprios técnicos da estatal em R$ 1,4 bilhão. Essas ações foram listadas no informativo trimestral enviado pela companhia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no último dia 11, um documento que tem sido encarado como roteiro por alguns dos integrantes da CPI da Petrobras.


Com 159 páginas, o relatório detalha a contabilidade da estatal no primeiro trimestre. Entre milhares de números e notas técnicas, há informações sobre algumas das mais importantes pendências enfrentadas pela companhia no Judiciário e instâncias administrativas. Um prato cheio para a oposição e base aliada, que se armam para o festival de acusações mútuas na CPI. Nos cálculos da empresa, esse polo passivo, tecnicamente chamado de “exposição máxima atualizada”, é hoje de R$ 19,3 bilhões. Para se ter uma idéia, a Petrobras investiu de janeiro a abril deste ano R$ 17,1 bilhões.


No Congresso, a oposição encampou o discurso da má gestão como um dos argumentos para criar a CPI da Petrobras. Os adversários do Palácio do Planalto alegam, por exemplo, que “em decorrência de artifícios contábeis a empresa teria deixado de recolher impostos e contribuições no valor de R$ 4,3 bilhões”, descreveu o senador tucano Álvaro Dias (PR) no requerimento da investigação parlamentar. A estatal rebate essa informação, nega qualquer irregularidade e sustenta que teria ocorrido um ajuste contábil legal e o valor líquido dessa compensação seria de apenas R$ 1,14 bilhão.


Multa


Num trecho do relatório enviado pela Petrobras no início do mês à CVM, um governista consultado pelo Correio identificou, por exemplo, um processo da Receita Federal no Rio de Janeiro que aplicou multa na estatal referente ao “imposto de renda sobre remessas ao exterior de pagamentos de afretamentos de embarcações entre 1999 e 2002”. Nesse período, o Palácio do Planalto era comandado pelo ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. Numa coincidência, o valor listado pela Petrobras é de R$ 4,3 bilhões, número semelhante ao que a oposição contesta no caso do tal ajuste contábil. Esse caso se encontra atualmente em fase de recurso, na Câmara Superior da Receita.


Um outro trecho do documento reforçará a munição governista. E ajudará na cantilena de que, por trás da CPI, haveria a intenção de privatizar a empresa. Trata-se de ação proposta pela Porto Seguro relativa à venda da participação acionária da Petroquisa, um das subsidiárias da estatal, em empresas petroquímicas dentro do Programa Nacional de Desestatização (PND). O PND é cria do governo do ex-presidente Fernando Collor, hoje senador pelo PTB. Collor é um dos integrantes da CPI. A Porto Seguro alega prejuízos na transação.A Petrobras calcula esse passivo em R$ 3,5 bilhões.


AUDITORIAS E INQUÉRITOS


Correio Braziliense – 3.6.09


As pendências judiciais da Petrobras fazem parte do arsenal a ser explorado pelos adversários do Palácio do Planalto e integrantes da base aliada do governo. Diante do volume e da complexidade das operações realizadas pela estatal, a estratégia adotada pelos dois lados, mas principalmente pela oposição, é buscar apurações já concluídas, caso das auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU), inquéritos da Polícia Federal e denúncias enviadas à Justiça pelo Ministério Público Federal.


Para tucanos e democratas no Senado, essa é uma forma de impor constrangimento ao governo. Barrar o acesso a informações e convocações de pessoas que foram presas e denunciadas pelas autoridades seria um desgaste, avaliam os opositores de Lula. Por isso, antes mesmo de instalada a comissão, ainda sem previsão (leia mais na página 3), o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento de criação da investigação parlamentar, começou a trabalhar nas primeiras propostas.


Retenção


No TCU, por exemplo, existe processo sobre problemas em contratos da Petrobras com fornecedores. O Correio mostrou na edição do domingo que o tribunal mantém retidos cerca de US$ 180 milhões que a estatal deveria pagar a empresas de Singapura para construção das plataformas P-52 e P-54. O problema foi gerado por causa de variações cambiais, mas o TCU decidiu fiscalizar novamente.


Desde 2001, a Petrobras libera recursos provenientes de seu imposto de renda para conselhos municipais, estaduais e federal de defesa da infância e adolescência. O tribunal iniciou uma auditoria para saber se há direcionamento político do dinheiro. Na Bahia, entre as 24 prefeituras que receberam a verba, 11 eram administradas por integrantes do PT. (MR)


ESTATAL FEZ CONTRATO DE R$ 2,6 MI COM CARTA-CONVITE


O Estado de S. Paulo – 4.6.09


A Petrobrás contratou em agosto do ano passado a BDO Trevisan Auditores pelo valor de R$ 2,6 milhões para realização de "auditoria independente de leilão eletrônico". O contrato foi assinado por meio de processo de carta-convite, em que a própria estatal escolhe e convida as participantes a apresentarem suas propostas de preço.


A BDO Trevisan foi fundada por Antoninho Marmo Trevisan, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República (CDES) e amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em março deste ano ele deixou oficialmente a sociedade, após vender sua parte aos sócios, ficando como presidente do conselho consultivo da empresa.


A lei não proíbe que a companhia do consultor e amigo de Lula preste serviço para a estatal, nem que serviços de alto valor alto, como este, sejam assinados por meio de carta-convite. A parceria entre Trevisan e a Petrobrás será investigada pela CPI da Petrobrás. O contrato é um dos 6.675 que aparecem na lista que a estatal divulga em seu site, desde maio de 2008, com todos seus prestadores de serviços.


Além dos R$ 2,6 milhões recebidos por esse serviço, os negócios de Tevisan aparecem em outras três ocasiões recebendo da Petrobrás, mas com pagamentos de baixo valor. Em julho do ano passado, a BDO Trevisan foi contratada por inexigibilidade de licitação para "a confecção de laudos contábeis", pelo valor de R$ 19,8 mil. Em abril deste ano, logo após ele deixar a empresa, ela foi paga pelos serviços de "auditoria em leilão", num contrato feito por dispensa de licitação. Em outubro do ano passado, o Instituto Trevisan do Conhecimento também foi contratado por dispensa de licitação para um curso de "aperfeiçoamento para contabilistas", pelo valor de R$ 50 mil. O instituto foi criado pelo empresário.


Em 2005, uma das empresas de Trevisan foi intermediária num negócio até hoje investigado que envolveu a compra de ações e a injeção de R$ 5 milhões na empresa Gamecorp por parte da Telemar. A Gamecorp tem como um dos sócios Fábio Luiz da Silva, um dos filhos de Lula. Trevisan também fez auditorias na Secretaria de Finanças do PT, durante a gestão do ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares.


Por meio de sua assessoria de imprensa, a BDO Trevisan informou que fez o contrato de R$ 2,6 milhões dentro da regulamentação da estatal e que "disputou a concorrência com outras empresas e foi vencedora ao oferecer o menor preço".
A estatal confirma que a BDO foi escolhida entre 12 convidadas por ter apresentado o menor preço. E diz que os serviços estão sendo realizados regularmente.


INVESTIGADAS


Entre a lista de contratadas da Petrobrás nos últimos 12 meses, aparecem outras duas empresas envolvidas em escândalos. A GDK, que ficou conhecida pro causa do Land Rover dado ao ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, receberá R$ 162 milhões em sete contratos. A Iesa Óleo & Gás, acusada de fraudar licitações da estatal em 2007, receberá R$ 190 milhões.


Tanto a Petrobrás como as empresas alegam que os contratos foram obtidos por meio de disputa entre empresas convidadas e que não há impedimento para suas contratações pela estatal.


NA MIRA DA OPOSIÇÃO


Correio Braziliense – 4.6.09


À cata de denúncias para impulsionar a CPI da Petrobras, a oposição escolheu um personagem-símbolo para começar a abrir o que considera a caixa-preta da estatal: a área comandada por Wilson Santarosa. Petroleiro desde 1975, Santarosa é um petista histórico que, desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, ganhou o cargo de gerente-executivo de Comunicação Institucional. O homem responsável por cuidar de um orçamento estimado em R$ 1 bilhão em patrocínios, comunicação, repasses a organizações não governamentais e incentivos culturais virou a bola da vez da investigação que os adversários do Planalto querem imprimir.


O pedido de criação da CPI foca em dois principais pilares. De um lado, os contratos bilionários com fornecedores da estatal, inclusive no exterior. De outro, os gastos com comunicação e cultura. A oposição avalia que mirar nos negócios sob a influência de Santarosa será mais cômodo e produzirá resultado mais imediato, frente à complexidade dos megacontratos da empresa, regidos por legislação especial. Com essa estratégia, evitam ainda, em ano pré-eleitoral, remexer na principal fonte de recursos de campanha: as grandes empresas do país.


Para justificar a criação de uma CPI, a oposição sustenta haver direcionamento político nos convênios firmados pela Petrobras. Parte desses convênios é patrocínio realizado pela Gerência de Comunicação Institucional. Exemplo disso foi o incentivo destinado a prefeituras da Bahia para a promoção de festas de são-joão. Os recursos foram canalizados por meio de uma ONG controlada por petistas. A estatal nega qualquer favorecimento político e argumenta que o repasse tem como objetivo promover a marca da empresa.


Desde 2004, o TCU abriu sete processos para investigar supostas irregularidades em gastos da área comandada por Santarosa. A maioria dos pedidos de apuração partiu de parlamentares de oposição que questionam os critérios de repasses.


Dossiê


Santarosa foi envolvido em 2006 no escândalo do dossiê fajuto comprado por petistas para atacar a campanha de José Serra (PSDB) ao governo paulista — caso que ficou conhecido como o escândalo dos aloprados. Ao analisar o sigilo telefônico de Hamilton Lacerda, ex-assessor do comitê de Aloizio Mercadante (PT), a Polícia Federal identificou ligações entre Lacerda e Santarosa em datas próximas à negociação do papelório. A suspeita levantada pela PF era de que dinheiro de fornecedores da estatal sob a influência de Santarosa bancou a documentação, comprada por R$ 1,7 milhão. As investigações da PF, entretanto, não foram adiante.


A CPI estuda retomar esse fio solto. Procurado pelo Correio, o senador Álvaro Dias (PSDB) confirmou. “É fato determinado desta CPI investigar patrocínios e publicidade”, afirmou. “Portanto, a gente pode retomar essa apuração, sim”, declarou. Por meio da assessoria de imprensa, o executivo da Petrobras disse que conhece Lacerda e que o caso já foi “apurado e encerrado, não tendo sido nunca intimado ou citado durante o processo”.


Santarosa tem influência no Planalto e no Congresso. Volta e meia, vem do Rio de Janeiro para Brasília para discutir políticas de investimentos de sua área com o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins. Durante a sua gestão, segundo petistas que têm trânsito na área, foi unificada uma boa parte dessas verbas de patrocínio e publicidade. No Congresso, vale-se do seu braço-direito Carlos Figueiredo, do escritório da Petrobras na capital, para repassar recados para parlamentares. “O Carlos cuida dos projetos de interesse da estatal no Congresso”, afirma o senador Tião Viana (PT-AC).


Um segundo motivo leva os oposicionistas a mirarem em Santarosa. Ele é presidente do Conselho Deliberativo do Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras. Atualmente a Petros está em segundo lugar em patrimônio no país, segundo a associação das entidades do setor, com R$ 39 bilhões. Seu nome chegou a aparecer nas investigações da CPI dos Correios, como próximo do ex-ministro Luiz Gushiken, influente na área e que deixou o governo durante o escândalo político deflagrado em 2005.


PONTOS DE INVESTIGAÇÃO


Correio Braziliense – 4.6.09


A Gerência de Comunicação Institucional, comandada por Wilson Santarosa, sempre foi alvo de questionamentos por parte da oposição. Os adversários do Palácio do Planalto pretendem investigar os negócios do setor, além de retomar denúncias não completamente apuradas no passado. Para isso, vão partir de apurações já realizadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e Polícia Federal:


• Sete investigações foram abertas pelo Tribunal de Contas da União para apurar verbas gastas pela Petrobras com patrocínios e publicidade, além de repasses a organizações não governamentais


• Os adversários do Palácio do Planalto querem investigar o incentivo destinado pela Petrobras a prefeituras baianas, algumas delas administradas pelo PT, para promoção de festejos juninos. Os recursos foram canalizados por meio de um ONG controlada por petistas


• A Polícia Federal e a CPI das Ambulâncias levantou suspeitas sobre a atuação de Wilson Santarosa no episódio do dossiê tucano durante as eleições de 2006. Foram identificados contatos entre Hamilton Lacerda, ex-assessor da campanha derrotada do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo, e Santarosa nas duas semanas que antecederam o flagrante da operação


MAL COMEÇOU E JÁ VIROU NOVELA


Correio Braziliense – 4.6.09


Diálogo curto e grosso entre o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e o senador Paulo Duque (PMDB-RJ), mais velho integrante da CPI da Petrobras e responsável por sua instalação, durante a tarde de ontem, no cafezinho da Casa: “Vou viajar amanhã às 10h, outros senadores também, você não vai ter quorum para a instalação. É melhor marcar para a próxima quarta-feira”, disse Romero. “É problema seu. Marquei a instalação para as 11h, ninguém tem obrigação de comparecer, somente eu. Estarei lá 10 minutos antes, se houver quorum vou instalar a comissão”, disparou Duque, disposto a manter a reunião.


O veterano parlamentar fluminense, que na terça-feira deu por encerrada a primeira tentativa de instalação da CPI por falta de quorum com 13 minutos de espera na presidência da comissão, virou uma espécie de gênio fora da lamparina mágica: dá o maior trabalho para colocá-lo de volta. Foi preciso um acordo de Jucá com os líderes do PSDB Arthur Virgílio e do DEM José Agripino no fim da tarde de ontem para convencer o senador a adiar a reunião para a próxima quarta-feira. Duque afirma que vai cumprir o regimento e instalar a comissão, desde que haja quorum. Não leva em conta a estratégia governista de obstruir a instalação da CPI até que a oposição aceite reintegrar o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) como relator da CPI das ONGs.

A oposição bem que tentou reunir seis senadores para instalar a comissão na manhã de hoje, diante da intenção de Duque de manter a reunião que havia convocado. Virgílio chegou a consultar o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL), que garantiu que compareceria à reunião, mas o senador Jefferson Praia (PDT-AM) não deu a mesma certeza. O líder do PSDB, então, desistiu do intento: a tentativa de instalar a CPI hoje pela manhã poderia virar um mico na sua mão. A oposição está tão enfraquecida na CPI que não consegue capitalizar o desentendimento entre os governistas, aproveitando a queda de braço entre os líderes do PMDB Renan Calheiros (AL) e do PT Aloizio Mercadante (SP).


Preferência


Ontem, Renan aumentou a cortina de fumaça em relação ao comando da CPI da Petrobras. Disse que não sabe ainda se o PMDB ficará com a presidência ou a relatoria. “Dependendo do cargo, o perfil muda”, completa, enigmático. O nome de preferência do Palácio do Planalto é Jucá, mas o líder do governo já jogou a toalha e revela cansaço com a situação: “Não faço a menor questão de ser relator”, disse o líder do governo no Senado.


PETROBRAS CONTRATA ONG POR R$ 16,1 MI


Folha de S. Paulo – 6.6.09


O maior contrato assinado pela Petrobras com uma ONG no período de maio de 2008 a maio deste ano beneficiou a organização não governamental Movimento Brasil Competitivo -que se destaca entre os patrocínios milionários da estatal, a maioria deles sem licitação.


Em setembro e outubro de 2008, o MBC (uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público registrada no Ministério da Justiça) assinou contratos para captar R$ 16,1 milhões da Petrobras. Esse valor representa 80% dos contratos da empresa com a entidade no governo Lula, segundo dados levantados pela Folha.
O maior dos contratos (no valor de R$ 15 milhões) tem como finalidade a modernização da gestão pública e o aumento da competitividade do setor privado em seis Estados (PE, AL, SE, BA, RJ, AM) e no Distrito Federal. Até agora, R$ 4,7 milhões já foram liberados.


Segundo a Petrobras, a entidade foi contratada sem licitação porque a lei dispensa o procedimento para esse tipo de prestação de serviços. A estatal diz que os critérios para a escolha dos projetos de pedido de patrocínio da estatal são definidos com base nas "diretrizes e ações estratégicas" da empresa.
Segundo dados da entidade, a Petrobras bancou 7% da arrecadação do MBC em 2008, de cerca de R$ 47 milhões. A participação e os nomes dos doadores são mantidos em sigilo, embora, como associação civil de direito privado de interesse público e sem fins lucrativos, a entidade tenha de prestar contas ao Ministério da Justiça.


O estatuto do MBC diz que seu objetivo é realizar ações de gestão e melhoria de processos produtivos. O movimento funciona num conjunto de salas do prédio da Confederação Nacional do Comércio em Brasília.Entre os resultados destacados no relatório anual, a entidade menciona a instalação de chips de controle de combustíveis nos carros oficiais de Alagoas, o que teria reduzido a menos da metade o consumo na frota do Estado. Em Pernambuco, o programa teria contribuído para aumentar o nível de investimentos públicos por meio de redução de gastos.


Criado em novembro de 2001, com o empresário Jorge Gerdau Johanpetter na liderança, o MBC é mantido por um grupo de 64 empresas públicas e privadas. O conselho superior, que dita as diretrizes, é composto por quatro ministros e representantes das empresas. Sem direito à remuneração, os membros do conselho se reúnem três vezes ao ano.


Entre os conselheiros da ONG estão o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Os ministros Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia), Miguel Jorge (Desenvolvimento) e Paulo Bernardo (Planejamento) também representam o governo no MBC. "É importante que o governo esteja presente", disse Cláudio Gastal, diretor-presidente do Movimento. Mas, disse ele, por "problemas de agenda", Dilma não participou das reuniões do conselho desde que assumiu a Casa Civil. Gabrielli também costuma indicar alguém que o substitua nas reuniões.


Dilma afirmou, por meio de sua assessoria, que "jamais" compareceu a reuniões do conselho diretor do MBC e que não participou das decisões da entidade. A Petrobras tampouco vê conflito de interesse em patrocinar uma entidade que tem o presidente da estatal entre os seus conselheiros: "O estatuto do MBC prevê que os associados participem do conselho".


Sob a gestão Lula, o MBC contratou mais de R$ 20 milhões. A Folha teve acesso aos patrocínios concedidos pela Petrobras entre 2003 e 2007 com base em informações enviadas ao Congresso. Na página da Petrobras na internet estão disponíveis contratos fechados entre maio de 2008 e maio de 2009. Nos últimos anos, os investimentos da Petrobras em patrocínios passaram de uma média de pouco mais de R$ 300 milhões ao ano para algo próximo a R$ 600 milhões.


PETROBRAS USA BLOG PARA VAZAR REPORTAGENS


Folha de S. Paulo – 6.6.09


Alvo de uma CPI no Congresso, a Petrobras decidiu tornar públicos, em um blog que criou na internet, os e-mails enviados por jornalistas que procuram a assessoria de comunicação da empresa, no Rio, para obter informações e esclarecimentos para reportagens que ainda estão em andamento.
A empresa colocou o blog no ar no último dia 2, como parte da estratégia da comunicação lançada pela estatal após a abertura da CPI (http://petrobrasfatosedados.wordpress.com).


Na noite de ontem, o objeto de reportagens que a Folha ainda apura - com questões endereçadas à empresa, para que possa oferecer a sua versão dos fatos- foi publicado no blog pela Petrobras.A Folha fez perguntas a respeito da contratação de advogados sem licitação, sobre os custos de um gasoduto no Amazonas e, por último, acerca de gastos com patrocínios de festas no Nordeste.


Questionado pela Folha, o gerente de imprensa da estatal, Lúcio Pimentel, disse que a Petrobras vai manter a decisão de divulgar e-mails de reportagens ainda em andamento. Disse que se trata de uma "política de transparência" adotada pela direção da empresa. A atitude da Petrobras motivou os jornais "O Estado de S. Paulo" e "O Globo" a indagar se a empresa havia pedido autorização à Folha para divulgar seus e-mails.


A Petrobras respondeu: "Não houve divulgação do e-mail, e sim das perguntas e respostas dadas ao jornal [Folha]. No entendimento da Petrobras não há ilegalidade, pois o conteúdo divulgado é público".Segundo a companhia, a "intenção é tornar públicas as respostas enviadas pela companhia, de forma completa e sem edição dos dados, sobre todos os questionamentos feitos pela imprensa".


Segundo a Petrobras, o blog é gerido por "profissionais da empresa". De acordo com resposta divulgada mais cedo no blog, por conta de reportagem de "O Globo", a Petrobras conta com 1.050 jornalistas contratados, sendo 400 na área da comunicação institucional.A Petrobras também tem usado o blog para comentar e criticar reportagens já publicadas pela imprensa.


Dos comentários postados no blog até a noite de ontem, a maioria era de apoio à companhia. Muitos atacavam veículos de comunicação e jornalistas. Conforme o texto sobre a política de comentários, eles precisam passar por um moderador da empresa antes de ir ao ar.


O advogado José Paulo Cavalcanti Filho, especialista em legislação de imprensa, diz não ver ilegalidade. "É apenas uma deselegância com os jornais. Do ponto de vista da democracia, não é ruim, pois a ideia é que a pergunta vai ao ar, de maneira que qualquer um do povo toma conhecimento."


VERBA PARA MAMONA VIRA ALVO DA CPI DA PETROBRÁS


O Globo – 6.6.09


BRASÍLIA. A suspeita de favorecimento político em convênios da Petrobras com cooperativas agrícolas no Nordeste entrou na mira da CPI que investigará as denúncias contra a estatal no Senado. A oposição vai cobrar explicações sobre o repasse de verbas do programa de biodiesel a entidades ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Os senadores já estudam pedir a convocação do presidente da Petrobras Biocombustível, Miguel Rossetto.

Os contratos foram assinados a título de incentivo à produção de mamona, que até hoje não deu origem a um único litro de combustível. Só entre março e setembro de 2008, os repasses a três cooperativas subordinadas ao Movimento de Luta pela Terra (MLT) e à Contag somaram R$ 3,5 milhões.


"O governo montou uma farsa usando a Petrobras" O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) questionou a assinatura de novos convênios de R$ 10 milhões para a produção de mamona, apesar de a Agência Nacional do Petróleo (ANP) já ter descartado o óleo sem mistura como matéria-prima do biodiesel. Rossetto firmou os contratos menos de duas semanas após assumir o cargo.

O governo montou uma farsa usando a Petrobras. Esta é a comprovação gritante do mau uso do dinheiro da empresa para fazer política, explorando a ingenuidade da população rural - criticou o senador tucano, que é suplente da CPI.
Tasso se disse impressionado com a revelação de que milhares de sacas de mamona compradas pela Petrobras se amontoam há mais de dois anos em depósitos espalhados pelo sertão: - Todo mundo sabia que a mamona é inviável para a produção de biodiesel neste momento.


Então, por que insistir nisso? Das duas, uma: ou incompetência ou má-fé.
Autor do requerimento que criou a CPI, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) defendeu a convocação de Rossetto: - O projeto de biodiesel foi transformado em pretexto para repassar recursos a entidades parceiras do governo. A reportagem deixa bem nítido o desvio de finalidade na aplicação do dinheiro. Vamos cobrar a prestação de contas desses contratos, e acho que Rossetto tem que ser ouvido na CPI.


O senador Antonio Carlos Magalhães Junior (DEM-BA) disse não ver necessidade para os convênios: - Os indícios de uso político são graves, porque a atuação da Contag e do MST não tem nada a ver com as atividades da Petrobras. Por que a empresa não compra a mamona direto dos agricultores? Procurada, a Petrobras não se manifestou sobre as declarações dos senadores.


Apesar das críticas de especialistas, a mamona continua a ser um tema recorrente nos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde 2004, ele já citou a planta em 94 pronunciamentos, 26 entrevistas e oito edições do seu programa semanal de rádio, segundo pesquisa no site da Presidência da República.

Em agosto do ano passado, um mês após o parecer contrário da ANP, Lula voltou a defender os gastos: - Esses dias, vi uma matéria dizendo que a mamona tinha fracassado no Brasil, e nós ainda nem começamos a dar uma dimensão industrial para o programa de biodiesel através da mamona. (...) Mas aqueles que não acreditam no programa já começam a vender que não vai dar certo - reclamou, ao inaugurar uma usina de biodiesel da Petrobras em Quixadá (CE).


PETROBRAS AINDA FINANCIA A FRACASSADA MAMONA


O Globo – 7.6.09


BRASÍLIA. Criticada por especialistas e condenada em parecer técnico da Agência Nacional do Petróleo (ANP) como matéria-prima do biodiesel, a mamona mantém viva uma rede de convênios entre a Petrobras e cooperativas com ligações políticas no Nordeste. Após inaugurar três usinas, a estatal ainda não produziu uma única gota de combustível com a planta, cujos estoques se amontoam em depósitos na região. Mesmo assim, a empresa acaba de assinar novos contratos com entidades controladas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

De março a setembro de 2008, a Petrobras repassou pelo menos R$ 3,5 milhões a três cooperativas ligadas à Contag e ao Movimento de Luta pela Terra (MLT) na Bahia e no Ceará. Dois contratos foram fechados com dispensa de licitação, e o terceiro seguiu as regras s i m p l i f i c a d a s d o d e c re t o 2745/98, que dispensa a estatal de seguir a Lei de Licitações. A empresa nega influência política e diz que as entidades foram escolhidas por seguir "critérios e diretrizes de responsabilidade social definidas no programa social da companhia".


A política da mamona agora é comandada pelo ex-ministro do Desenvolvimento Agrário Miguel Rossetto, militante da ala Democracia Socialista do PT, que assumiu a presidência da Petrobras Biocombustível em maio. Com menos de duas semanas no cargo, ele assinou seis novos convênios de assistência agrícola, num total de R$ 10 milhões. Entre as entidades beneficiadas, estão a Cooperativa de Trabalho das Áreas de Reforma Agrária do Ceará (Cooptrace), do MST, e a Cooperativa de Prestação de Serviços e Assistência Técnica (Copasat), da Contag. A Petrobras não informou o valor repassado a cada uma.


No Ceará, a produção de mamona deveria abastecer a usina de biodiesel de Quixadá, inaugurada no passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, a fábrica ainda funciona à base de soja e algodão importados de outros estados. Enquanto isso, as sacas de mamona compradas pela Petrobras permanecem armazenadas em dois grandes depósitos, um na cidade e outro no município de Santa Quitéria.


Só a Cooperbio, ligada à Contag, informou ter assinado dois convênios no valor total de R$ 3,07 milhões desde março de 2008. O maior contrato, de R$ 1,99 milhão, foi registrado na base de dados da Petrobras como "Patrocínio ao projeto denominado Cooperbio". O presidente da entidade, Antonio Darinho do Nascimento, disse que a função da Cooperbio é organizar os produtores e representálos junto à estatal: - Tem o público do MST e tem público da Contag. Nós é que fazemos o intercâmbio entre os agricultores e a Petrobras.


O dirigente elogiou o programa de biodiesel, mas disse ignorar o destino da mamona plantada pelos agricultores filiados a sua cooperativa. Ele admitiu apenas que parte da safra do ano passado, colhida à base de incentivos da estatal, foi desviada por atravessadores para a indústria ricinoquímica; - A maior parte quem comprou foi a Petrobras. Agora, o que ela está fazendo, eu não sei - afirmou.


Perguntada sobre o destino das sementes, a Petrobras informou apenas que "não está havendo desvio de finalidade dos investimentos", e que "a mamona comprada dos agricultores familiares será usada para extração do óleo". No ano passado, a estatal comprou 1.506 toneladas de mamona de agricultores familiares.


Pela cotação média de R$ 1,04, a safra teria custado R$ 1,56 milhão, sem virar biodiesel. A empresa gastou mais R$ 4,9 milhões na distribuição gratuita de sementes. Especialista em biodiesel, o professor Donato Aranda, da UFRJ, critica a insistência.


- A viscosidade da mamona é três vezes maior do que a de qualquer outro óleo vegetal, o que pode causar desgaste precoce dos motores e queimar o filme de todo o programa do biodiesel. Não está claro, para quem estuda o assunto, por que insistir nela como matéria-prima para biocombustíveis – afirmou


CENÁRIO DE DESPERDÍCIO EM QUIXADÁ


O Globo - 7.6.09 - QUIXADÁ.


Desde dezembro passado, cerca de 800 mil quilos de mamona colhidos no Ceará para a produção de biodiesel estão estocados num depósito em Quixadá (a 160 quilômetros de Fortaleza), sujeitos à chuva e à degradação. A oleaginosa está em sacos com a logomarca BR, da Petrobras, e deveria ter sido usada na Unidade de Produção de Biodiesel de Quixadá. Mas não tem destino certo.


A usina de Quixadá foi inaugurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em agosto do ano passado. Projetada para usar sebo, óleo de soja, mamona, algodão e girassol, até hoje não produziu um litro sequer de biodiesel a partir da mamona.


A mamona é das safras de 2007 e 2008 e totaliza cerca de 1,2 tonelada. Como não está sendo utilizada, foi distribuída em depósitos em Santa Quitéria e Quixadá. No galpão da Usina Damião II, no Centro de Quixadá, cidade administrada pelo PT, os sacos ficam numa área protegida por telha de amianto. Alguns estão rasgados e deixam à vista caroços que caem no chão.


A mamona estocada no depósito foi comprada pela Petrobras, por intermédio de uma empresa terceirizada, de pequenos agricultores de municípios cearenses beneficiados pelo Pronaf. Além da garantia de compra, receberam subsídio de R$ 200 por hectare plantado, até 5 hectares.


Com produção de 150 mil litros por dia, a usina terá a capacidade ampliada, até 2010, das atuais 50 mil toneladas/ano para 70 mil. O anúncio foi feito pelo presidente da Petrobras Biocombustível, Miguel Rossetto, em abril. Apesar de o Ceará ter mamona guardada, o projeto prevê o fornecimento de 68 toneladas de sementes de mamona para o estado. No distrito de Juatama, de 54 agricultores do assentamento Iracema, só João Batista de Souza decidiu plantar mamona. A primeira colheita, iniciada em outubro, rendeu cerca de 980 quilos, vendidos à empresa terceirizada pela Petrobras - a Vale Monumental Ltda.
Rendeu R$ 550. Este ano, as chuvas comprometeram a plantação.
- O que vai salvar é o subsídio. Se não for o subsídio, mais difícil plantar


PETROBRÁS OMITE VALOR DE CONTRATO COM CONSULTORIA


O Estado de S. Paulo – 9.6.09


A Petrobrás omite o valor pago pela contratação, sem licitação, da consultoria de comunicação Companhia de Notícias (CDN) para apoiar a estatal durante a CPI do Senado. A pergunta foi feita pelo Estado na última sexta-feira, mas não houve resposta até ontem à noite. A Petrobrás conta com uma equipe de 1.150 profissionais em sua área de comunicação social e, segundo o presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli, necessita de apoio externo para enfrentar a alta demanda por informações gerada pela CPI.


"Contratação de publicidade e imprensa não tem licitação, é o que diz a lei", disse Gabrielli, que não soube informar o valor do contrato, em entrevista concedida ontem no programa Roda Viva, da TV Cultura. Ele disse não considerar alto o número de funcionários da área de comunicação da companhia, alegando que há funções que vão desde o contato com a imprensa à realização de eventos e "funções burocráticas".


A contratação da CDN faz parte do programa de comunicação de crise da Petrobrás, criado em 2002 após vazamentos de petróleo e o naufrágio da P-36 e reunido novamente após a aprovação da CPI para investigar contratos da estatal. O grupo é formado por profissionais de comunicação da companhia e executivos de áreas operacionais, com o objetivo de agilizar o fluxo de informações.


BLOG


Uma das primeiras iniciativas do grupo de crise foi abrir um blog para apresentar "fatos e dados recentes da Petrobrás e o posicionamento da empresa sobre as questões relativas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)". No ar desde o último dia 2, o blog vem sendo alimentado diariamente com reportagens publicadas na mídia sobre a companhia e as respostas enviadas pela estatal aos veículos de comunicação.


A iniciativa provocou polêmica após divulgação, antes da publicação de reportagem, de perguntas feitas por repórter do jornal Folha de S. Paulo à companhia. Questionamentos encaminhados pelo Estado na sexta-feira - respondidos apenas em parte - também foram divulgados no blog. Não é costume que uma empresa - ou outra fonte jornalística - divulgue a outros veículos de comunicação o trabalho que vem sendo desenvolvido por um concorrente.


TRANSPARÊNCIA


No blog, a Petrobrás diz que a divulgação antecipada das perguntas tem como objetivo "dar transparência aos processos e não prejudicar o levantamento de fatos e dados de jornalistas". "Não há coisa contra o jornalista", disse Gabrielli. Ele acrescentou que a política de divulgação das informações será mantida, apesar das críticas.


"Como toda mídia, por definição, edita, estamos querendo apresentar a íntegra (das informações)", completou Gabrielli. No blog, há sempre comentários referentes às reportagens publicadas sobre a estatal, com a íntegra das respostas enviadas aos repórteres. "Esperamos que outras empresas ajam dessa forma."


PREFEITURAS DO PT TÊM MAIS REPASSE DA PETROBRÁS


O Estado de S. Paulo – 10.6.09


As prefeituras controladas pelo PT e pelo PMDB são as que mais receberão verbas da Petrobrás para programas e obras sociais nos últimos seis meses. Dos R$ 38,6 milhões reservados para as transferências, 67% beneficiarão cidades administradas pelas duas legendas, principais bases de sustentação política do governo Luiz Inácio Lula da Silva.


São termos de repasse assinados entre dezembro, quando os atuais prefeitos já estavam eleitos, e maio por meio de convênios e contratos por dispensa ou inexigibilidade de licitação, conforme permite regulamentação própria da Petrobrás.


A maior parte do dinheiro está incluída no programa Fundo da Infância e Adolescência (FIA). Por meio desse programa, a estatal transfere a verba, via prefeitura, para o conselho municipal de infância e adolescência. O conselho, então, repassa os recursos para as entidades e faz a fiscalização de sua aplicação.


Levantamento feito Estado mostra que nos seis meses foram assinados 157 termos de repasse. O PMDB é o líder, com 38 transferências, e o PT o segundo, com 36.


Em valores repassados, as cidades com prefeitos dos dois partidos também são as mais atendidas. Os petistas ficaram com R$ 21 milhões, o equivalente a 54% do total. Os municípios nas mãos dos peemedebistas receberam R$ 4,8 milhões.
A Petrobrás nega critérios políticos e informa que não participa da seleção dos projetos.


O levantamento, contudo, mostra que as prefeituras governadas por prefeitos de partidos da oposição - PSDB, DEM e PPS - não receberam, nem em valor repassado nem em quantidade de contratos, o que obtiveram as prefeituras do PT ou do PMDB. No total, as transferências para cidades governadas pelos três partidos somam R$ 3,7 milhões e 26 termos de parceria.


O FIA é mantido com a dedução de 1% do Imposto de Renda devido pela Petrobrás e deve beneficiar prioritariamente crianças em situação de risco nos municípios que estão próximos a unidades da empresa.


A falta de fiscalização dos programas por parte da Petrobrás é uma das principais críticas do Tribunal de Contas da União (TCU) em relação aos repasses sociais da empresa.As três cidades atualmente administradas por prefeitos do PT que mais receberam recursos da Petrobrás entre dezembro e maio foram Cosmópolis (SP), Jales (SP) e Betim (MG). Cosmópolis, no interior de São Paulo, é governada pelo prefeito Antônio Fernandes Neto. A cidade foi a única que teve dois contratos assinados no período.


O maior deles, do dia 30 de dezembro, prevê o repasse de R$ 13,5 milhões por meio de um convênio. O dinheiro deve ser usado para construção de uma estação de tratamento de esgoto, que vai atender os 55 mil moradores do município, localizado ao lado de Paulínia, onde está a Replan, uma das refinarias da Petrobrás.


Por meio de sua assessoria, o prefeito negou privilégios e disse que a obra é uma necessidade local. O município também recebeu R$ 169 mil para um programa que atende com oficinas de estudo 380 crianças da rede de ensino público denominado Despertar.


EMPRESA NEGA USO DE CRITÉRIO POLÍTICO


O Estado de S. Paulo – 10.6.09


A Petrobrás informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "não há critérios políticos no repasse de recursos" sociais para prefeituras e "não seleciona os projetos" beneficiados.


A estatal informou que os repasses feitos por meio do Fundo da Infância e Adolescência (FIA) são destinados a entidades e programas escolhidos por conselhos municipais, estaduais e nacional da infância e adolescência."Os conselhos encaminham seus projetos em ordem de prioridade. Não há qualquer influência da companhia nas escolhas", argumenta a Petrobrás.


Segundo a estatal, em 2008, os recursos disponíveis para esse tipo de repasse somaram cerca de R$ 44 milhões, distribuídos em duas modalidades, cada uma com metade do total.Uma delas atende aos conselhos municipais de cidades da região de influência de onde estão instaladas suas unidades. Outra vai para uma comissão "constituída por entidades com reconhecida competência" na área de garantia dos direitos da criança e do adolescente, que repassa os valores para os conselhos estaduais e para o conselho nacional.


Sobre os repasses feitos para a cidade de Cosmópolis, a Petrobrás informa que os R$ 13,5 milhões servirão para uma obra que vai elevar para 100% o tratamento de esgoto da cidade. Segundo a estatal, a concessão segue os critérios técnicos legais e a obra, a ser executada até 2011, "contribuirá para a recuperação dos mananciais locais, bem como a do Ribeirão Três Barras, o que beneficiará toda a região", que está na área de influência da Refinaria de Paulínia (Replan).


A estatal informou ainda que nesse caso "uma equipe técnica da Petrobrás fiscaliza mensalmente o cumprimento do convênio". Quanto aos demais repasses para prefeituras petistas, a empresa alega que eles foram feitos dentro dos critérios legais.


BASE ALIADA ACHA ÁLIBI PARA FREAR CPI


O Estado de S. Paulo – 10.6.09


Interessado em adiar ao máximo a abertura da CPI da Petrobrás, o governo usou ontem a disputa pela relatoria de outra comissão parlamentar de inquérito, a CPI das ONGs, para jogar no impasse. A base aliada obstruiu a reunião da CPI das ONGs logo que o presidente da comissão, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), se negou a votar a questão de ordem que propunha tirar o líder tucano Arthur Virgílio (AM) do posto de relator. Como PSDB e DEM se recusam a devolver a relatoria à base governista, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou que seria "difícil" instalar a CPI da Petrobrás na manhã seguinte (hoje).


Para o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), o impasse pode ter vida longa, e, por tabela, a CPI da Petrobrás também tem data cada vez mais indefinida para a instalação. Depois de vetar o arranjo do Planalto para entregar a relatoria da CPI da Petrobrás ao senador Romero Jucá (PMDB-RR), sem consultá-lo previamente, Renan e o líder governista já se reconciliaram.


Agora, os dois entoam o mesmo discurso contra o "golpe" da oposição na CPI das ONGs. "Não tem muito sentido fazer essa investigação política no momento em que o Brasil se prepara para sair da crise e voltar a crescer, e quando o nível de satisfação das pessoas com o governo e com o presidente Lula é recorde", disse Renan ontem, destacando que seu PMDB não tem qualquer demanda junto ao governo. "Estamos satisfeitos com o que temos", afirmou o líder, referindo-se aos cargos do partido.


DESISTÊNCIA


Depois de endurecer o jogo na CPI das ONGs, recusando-se até a considerar uma questão de ordem dos governistas, para trocar o relator, Heráclito Fortes jogou a toalha, mostrando que a oposição não conseguirá instalar hoje a CPI da Petrobrás. No final do dia, um Heráclito bem mais cordial procurou a líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC), e o líder petista Aloizio Mercadante (SP), para propor que a sessão deliberativa do Senado fosse realizada na manhã desta quarta-feira, bem no horário em que a CPI da Petrobrás deveria se reunir.


O regimento determina que as comissões não podem funcionar quando o plenário estiver reunido para votar. Exatamente por isso, a naturalidade com que Heráclito perguntou a Ideli e Mercadante se eles concordavam em antecipar a sessão do plenário para esta manhã chegou a suscitar dúvidas sobre a real disposição do DEM e do PSDB em abrir o investigação da Petrobrás.


"Já está todo mundo dizendo que não vai ter quórum", justificou o senador do DEM. Pouco antes, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), tomara o microfone para dizer que havia sido informado "há 2 segundos", que não haveria CPI da Petrobrás no dia seguinte.


A esperança da oposição em driblar a maioria folgada de oito governistas contra apenas três tucanos e democratas na comissão para investigar a Petrobrás estava centrada em dois senadores: Fernando Collor de Mello (PTB-AL) e Jefferson Praia (PDT-AM). Na semana passada, Collor chegou a anunciar que daria presença na reunião da CPI e Praia também acenou com a possibilidade de comparecer.


Ontem, no entanto, Collor já havia reservado passagem aérea para voltar a Maceió no meio da manhã. Praia, por sua vez, antecipou que não participará da reunião. "Como a questão agora é muito política e eu faço parte da base governista, seria incoerente eu comparecer em meio à queda de braço entre oposição e situação", justificou o parlamentar.


PROVÍNCIA DA ARGENTINA BLOQUEIA CONTAS DA PETROBRÁS


O Estado de S. Paulo – 10.6.09


O governo da província argentina de Santa Fé bloqueou 8,5 milhões de pesos (cerca de R$ 4,4 milhões) das contas bancárias da Petrobrás Energia S.A. na Argentina, acusando a empresa de não pagar dívidas tributárias com a administração local entre 2003 e 2009.A medida foi autorizada pela Justiça, atendendo a pedido do Fisco local. A informação foi confirmada ontem pela assessoria do governador Hermes Binner e pelo administrador de Impostos, Nicolas Ruejas.


"A Petrobrás foi notificada, mas ainda não respondeu à nossa iniciativa. As dívidas tributárias atrasadas vão de 2003 até hoje", disse Ruejas. A determinação do embargo foi feita na sexta-feira, segundo a subsecretária de Ingressos Públicos, Teresa Beren, mas somente ontem o caso foi divulgado.


COMUNICADO


No fim da tarde de ontem, a Petrobrás divulgou comunicado dizendo que paga suas dívidas "em dia". "A Petrobrás paga regularmente, em tempo e forma, todos os tributos que as leis nacionais, provinciais e municipais em vigor determinam pelas atividades que realiza como sociedade constituída na Argentina", diz o texto.
"No caso de Santa Fé, em conceito de ingressos brutos (tributos da província) foram pagos entre 2008 e os meses de 2009 cerca de 19 milhões de pesos, quando sua obrigação tributária, nesse período, foi de 9 milhões de pesos, ficando um saldo para a companhia de 10 milhões de pesos."


PETROCHAVE


Folha de S. Paulo- 14.6.09
ELIO GASPARI


As patrulhas parlamentares petistas têm um calmante para baixar o tom de tucanos e demos. Basta incluir duas palavras, somando nove letras, no meio de qualquer frase: "Joel Rennó". Rennó presidiu a Petrobras durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, com o ativo beneplácito do então PFL.


UMA PRA DEUS, OUTRA PRO DIABO


Correio Braziliense – 18.6.09
BRASÍLIA DF


Em meio à crise do Senado, o líder do PMDB na Casa, o alagoano Renan Calheiros (foto), deu um xeque-mate nas pretensões do líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR) de assumir a presidência da CPI da Petrobras. Renan convenceu a maioria da bancada de que a legenda, com apenas três dos 11 titulares da comissão, não deve assumir a responsabilidade de dirigir seus trabalhos. A instalação da CPI seria um problema do PT e do PSDB, principalmente.


Com esse argumento, Renan avisa que o PMDB não dará quorum para instalar a CPI enquanto petistas e tucanos não chegarem a um acordo sobre seu funcionamento. Acena com a possibilidade de a oposição indicar o presidente da CPI em acordo com o PT. No fundo, protela os trabalhos da comissão, dando tempo ao governo e à Petrobras para enfrentar as denúncias da oposição.


A propósito, os tucanos estão cada vez mais cautelosos. Descobriram que a CPI da Petrobras pode virar uma armadilha, pois os petistas estão preparando um dossiê contra Joel Rennó, ex-presidente da empresa no governo de FHC, e o empreiteiro German Efromovich, da Marítima Petróleo e Engenharia, por causa do naufrágio da Plataforma P-36.


PETROBRÁS TIRA GERENTE QUE GASTOU R$ 151 MI


Folha de S. Paulo – 22.6.09


Demitido por justa causa por suspeitas de desvio de recursos, o ex-gerente da Petrobras Geovane de Morais estourou o orçamento de sua área em 2008, ano de eleições municipais, em quatro vezes. Ele gastou, sem licitação nem autorização formal, R$ 120 milhões a mais do que o previsto.Conforme a Folha revelou, entre as empresas beneficiadas por Morais estão duas produtoras de vídeo que trabalharam nas campanhas do governador Jaques Wagner (PT-BA) e de duas prefeitas do PT.


As produtoras receberam R$ 4 milhões em 2008, sendo R$ 1,5 milhão para filmar festas de São João e Carnaval na Bahia.Ligado à ala do PT baiano oriunda do sindicato dos petroleiros e químicos do Estado, Morais tinha um orçamento na comunicação do Abastecimento de R$ 31 milhões para o ano passado. Contudo, fez pagamentos de R$ 151 milhões.


A estatal reconheceu que uma das razões para a demissão, formalizada em abril, foram os gastos muito acima do orçamento. Além disso, a empresa informou que ele desrespeitou outras normas internas, como pagamentos sequenciais a uma mesma empresa, ao invés de celebrar um contrato.


Em outras palavras, no lugar de negociar um pacote com um mesmo fornecedor, o que permite reduzir custos, Morais fazia vários desembolsos picados, elevando os ganhos dos prestadores de serviços. Essa prática é muito usada para driblar licitações e favorecer empresas previamente escolhidas.


As duas produtoras ligadas ao PT, a Movimento Produções e a M&V Produções, estão nessa situação. A Folha obteve os contratos da Gerência de Comunicação do Abastecimento de 2008. Foram mais de 90 pagamentos às duas produtoras, com diferença de dias na maioria dos casos e referentes a serviços diretamente interligados. Há desembolsos distintos, por exemplo, para filmagem e sonorização do mesmo evento.


Os dados demonstram que os valores destinados às duas explodiram depois que Morais assumiu o cargo, no final de 2004. Naquele ano, somente a Movimento foi contratada, por R$ 163 mil. No ano seguinte, as duas embolsaram R$ 291 mil. Em 2006, ano em que Jaques Wagner se elegeu, foi R$ 1,074 milhão, passando para R$ 1,87 milhão em 2007. Em 2008, chegou aos R$ 4 milhões.
Vagner Angelim, dono das produtoras, nega favorecimento.


Ele trabalhou na vitoriosa campanha de Wagner ao governo da Bahia, em 2006.
Outra empresa beneficiada por Morais é a Captura Produções. No ano em que foi aberta, 2008, recebeu R$ 1,15 milhão da Petrobras. Entre seus clientes está a Movimento Produções. Investigação da gestão de Morais constatou "indícios de pagamentos sem a devida entrega de serviços contratados".


ESTATAL DIZ QUE APURA SE HOUVE IRREGULARIDADE


Folha de S. Paulo – 22.6.09


A Petrobras informou que já esperava um estouro na previsão orçamentária da gerência de Comunicação do Abastecimento em 2008, devido a novos empreendimentos acompanhados pela área, como o Complexo Petroquímico do Rio e a refinaria Abreu e Lima (PE).Contudo, a estatal admitiu que Geovane de Morais foi demitido por justa causa, entre outros fatores, por ter liberado "pagamentos acima do limite previsto para sua gerência" e por ter extrapolado "a previsão orçamentária de 2008". "Caso a análise em curso identifique irregularidades, a Petrobras adotará as medidas judiciais cabíveis", diz a empresa. Morais não foi localizado .


Segundo a estatal, o caso dele será encaminhado ao Ministério Público e à Controladoria Geral da União.Vagner Angelim, dono da Movimento Produções e da M&V Produções, voltou a negar que seja ligado ao PT, que tenha sido favorecido pela Petrobras ou que tenha havido desvio de recursos. Sobre o aumento no repasse de recursos, ele diz que sua empresa é solicitada em todo o país pelo trabalho que faz e não por sua ligação política.


INVESTIGADA LIGAÇÃO DE SANTAROSA COM ALOPRADOS


O Globo – 24.6.09


CUIABÁ e SÃO PAULO. O procurador da República Mario Lucio Avelar pediu à Justiça Federal de Cuiabá a quebra do sigilo telefônico do gerente executivo de Comunicação Institucional da Petrobras, Wilson Santarosa, em 2006. Avelar quer investigar contratos da estatal com a NM Engenharia, para saber se há ligação entre a empresa e o chamado "dossiê dos aloprados". Petistas foram indiciados por terem tentado vender documentos, na campanha eleitoral de 2006, para tentar envolver tucanos com a fraude na venda de ambulâncias superfaturadas.


Avelar pede que a Polícia Federal quebre o sigilo dos telefones em nome de Santarosa, de 1º de agosto a 15 setembro de 2006, época da negociação do dossiê. Também requisitou a quebra do sigilo das linhas em nome de Paulo Eduardo Nave Maramaldo e de sua empresa, a NM Engenharia e Anticorrosão, que presta serviço à Petrobras. E sugere que a PF identifique todos os contratos entre a estatal e a empresa.


Santarosa falou 16 vezes com Hamilton Lacerda


De 1º a 15 de setembro de 2006, Santarosa e Hamilton Lacerda, então assessor da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) ao governo do estado, trocaram 16 telefonemas. Lacerda foi considerado, pela PF, o articulador da compra do dossiê e indiciado no inquérito, assim como Gedimar Passos e Valdebran Padilha, presos num hotel de São Paulo com R$1,7 milhão. O dinheiro seria usado para comprar o dossiê de Luiz Antonio Vedoin, dono da Planan, principal empresa do esquema da máfia das ambulâncias.


Passos e Padilha foram presos em 15 de setembro de 2006, em São Paulo; Vedoin foi preso no mesmo dia, em Cuiabá, com os documentos montados para tentar comprometer políticos do PSDB. Nas investigações, a PF chegou a Lacerda, identificando-o como o homem que entrou no hotel carregando uma pasta com o dinheiro.


Contratos de R$45,9 milhões com MN Engenharia


Em sua defesa, Lacerda disse que intermediou a publicação de uma reportagem e não comercializou o dossiê. Com a quebra de sigilo telefônico de Lacerda, a PF chegou às ligações de Santarosa e de Maramaldo, cuja empresa tem contratos com a Petrobras. O GLOBO localizou nove contratos da Transpetro com a NM firmados de fevereiro de 2006 a 2008, somando R$45,9 milhões - sete por carta convite e dois, no total de R$50 mil, com dispensa de licitação.


Em 2006, a Polícia Federal chegou a pedir a quebra do sigilo telefônico de Santarosa e de Maramaldo, mas não informou se a Justiça Federal concedeu o pedido. O inquérito segue em segredo de Justiça. O caso está no Supremo Tribunal Federal porque envolveu o nome de Mercadante, depois excluído por falta de provas.


Segundo o relatório da CPI das Ambulâncias, entre os telefonemas trocados entre Lacerda e Santarosa quatro foram em 11 de setembro de 2006 e outro dia 14, véspera da prisão dos "aloprados". Naquele dia, segundo a PF, Lacerda fez uma ligação para o telefone em nome de Maramaldo. Instantes mais tarde, Santarosa ligou para o telefone de Lacerda.


CPI PEDIRÁ À JUSTIÇA DADOS SIGILOSOS DE SANTAROSA


O Globo – 25.6.09


SÃO PAULO. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do pedido de instalação da CPI da Petrobras, informou ontem que, assim que a comissão for instalada, no dia 30, vai solicitar à Justiça Federal de Mato Grosso acesso aos dados referentes à quebra do sigilo telefônico do gerente executivo de Comunicação Institucional da empresa, Wilson Santarosa. O pedido de quebra de sigilo telefônico foi feito pelo procurador da República Mário Lúcio Avelar, como noticiou ontem O GLOBO.


Dias disse que pedirá à polícia cópias do inquérito que investiga eventuais irregularidades em contratos da estatal com a empresa NM Engenharia.
— Queremos ter acesso às informações sobre a quebra de sigilo e a detalhes do inquérito que investiga irregularidades na área comandada por ele — disse Dias, lembrando que a CPI pode convocar Santarosa a depor.


A Justiça Federal de Cuiabá investiga contratos da Petrobras com a NM Engenharia, do empresário Eduardo Nave Maramaldo, também investigado.A Procuradoria da República pediu a quebra do sigilo telefônico de Santarosa e de Maramaldo entre 1oe 15 de setembro de 2006, época da negociação do dossiê dos aloprados.


A própria companhia fez sindicância interna na área comandada por Santarosa, apontando irregularidades e demitindo até gerente setorial. Dependendo do relatório, vamos convocálo para prestar depoimento à comissão — disse Dias.


Santarosa teria conversado por telefone 16 vezes com Hamilton Lacerda, então assessor da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) ao governo paulista e um dos indiciados no inquérito que apura a atuação dos petistas na compra do dossiê.


A assessoria de imprensa da Petrobras informou que o gerente de comunicação da estatal, Wilson Santarosa, desconhece a empresa NM Engenharia e Paulo Eduardo Nave Maramaldo.Segundo a assessoria, a investigação do procurador retoma tema de 2006 sobre o qual a Petrobras prestou todos os esclarecimentos.


Segundo a Petrobras, em 2006 Santarosa falou algumas vezes por telefone com Hamilton Lacerda, que teria pedido ingressos para Fórmula-1 e adesão a jantar de apoio a Mercadante. A Petrobras reiterou que não há envolvimento de Santarosa no caso dos aloprados. A Petrobras informou ainda estar apurando que tipo de serviço a empresa NM Engenharia presta para a estatal e qual o valor do contrato.


O PETRÓLEO É NOSSO. E O ALTO SALÁRIO, DELES


Correio Braziliense – 25.6.09


O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou os diretores da Petrobras em verdadeiros xeiques. Segundo documentos internos da estatal, os vencimentos dos executivos da empresa, nomeados para os cargos por indicação política, tiveram um aumento médio de 90% entre 2003 e 2007. Nesse período, a inflação acumulada foi de 28,16%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).


Os papéis encaminhados pela empresa ao Ministério da Previdência e à Receita Federal mostram que os vencimentos — salários mais bônus — de cada um dos diretores fecharam 2007 em torno de R$ 710 mil, o que deu uma média mensal salarial de R$ 60 mil. Esse valor é bem maior que o dos salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal (SRF), fixado como teto salarial do funcionalismo público pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).


A papelada, obtida com exclusividade pelo Correio/Estado de Minas, mostra, por exemplo, que os vencimentos do diretor de Operações e Exploração da empresa estatal, Guilherme de Oliveira Estrella, saltaram de R$ 368.711,36 em 2003, para R$ 701.764,79 em 2007. Funcionário de carreira, Estrella conseguiu também engordar a aposentadoria nesse período.


No ano passado, o diretor recebeu R$ 153.361,83 da Petrus — o fundo de pensão dos funcionários da estatal. Esse valor é muito superior aos R$ 92.038,92 que ele recebeu da mesma fonte em 2003. Basta uma conta simples de somar para chegar à conclusão de que Estrella recebeu da Petrobras e da Petrus R$ 858.597,29. Ele embolsou ainda um 13º salário de R$ 84.648,24. Petista de carteirinha, Estrella soube compensar o partido, que, em 2003, o nomeou para o cargo de diretor. Em 2007, ele fez uma doação de R$ 25.200 para os cofres do PT.


Os constantes aumentos também beneficiaram o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli de Azevedo, e os diretores Almir Guilherme Barbassa (Financeiro), Paulo Roberto Costa (Abastecimento), Maria das Graças Silva Foster (Gás e Energia), Jorge Luiz Zelada (Internacional) e Renato de Souza Duque (Serviços). Eles receberam em 2007 em torno de R$ 710 mil de salários e outros bônus. Os vencimentos de Duque, empossado em 2003, saltaram de RS$ 369.711,36 em 2003 para R$ 706.260,68 em 2007.


Conselho


Ao contrário dos demais servidores da Petrobras, cujos aumentos salariais são definidos em acordo coletivo da categoria, os vencimentos dos diretores são decididos numa assembleia-geral ordinária do conselho administrativo e fiscal da empresa, que ocorre uma vez por ano. A assembleia do conselho deste ano aprovou, por exemplo, em 8 de abril, a destinação de R$ 8,2 milhões para o pagamento de salários e outros benefícios aos diretores, conselheiros e presidente da estatal. O conselho de administração da Petrobras é presidido pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Fazem parte ainda do conselho o ministro da Fazenda, Guido Mantega, José Sérgio Gabrielli Azevedo, Francisco Roberto de Albuquerque, Fábio Collete Barbosa, Jorge Gerdau, Luciano Galvão Coutinho, Sérgio Frankilin Quintella e Silas Rondeau Cavalcante Silva, ex-ministro do Planejamento.


A última assembleia fixou os salários dos conselheiros de administração e fiscal em 10% dos vencimentos dos diretores. Os conselheiros só não têm direito a passagem área, previdência privada e auxílio-moradia. Levando-se em conta que cada diretor recebe em média R$ 60 mil por mês, o salário dos conselheiros em 2007 ficou em torno de R$ 6 mil por mês. Isso explica porque o ex-ministro Silas Roundeau, demitido no ano passado sob a acusação de envolvimento com a Construtora Gautama, está radiante com o novo cargo arranjado mais uma vez por seu padrinho político, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB). Ele passou a receber a bolada para participar de uma reunião a cada quatro meses.


Contracheque gordo


Diretoria da Petrobras e total de salários e bônus recebidos em 2007
1- Almir Guilherme Barbassa
Cargo: Diretor Financeiro e de Relações com Investidores
Remuneração média: R$ 710 mil
Indicação: PT
2 - Guilherme de Oliveira Estrella
Cargo: Diretor de Exploração e Produção
Salário e bônus: R$ 701,76 mil
Indicação: PT
3- Paulo Roberto Costa1-
Cargo: Diretor de Abastecimento
Remuneração média: R$ 710 mil
Indicação: PP, com apoio do PMDB do Senado
4- Maria das Graças Silva Foster
Cargo: Diretora de Gás e Energia
Remuneração média: R$ 710 mil
Indicação: PT, da cota da ministra Dilma Rousseff
5- Jorge Luiz Zelada
Cargo: Diretor da Área Internacional
Remuneração média: 710 mil
Indicação: PMDB da Câmara
6-Renato de Souza Duque1-
Cargo: Diretor de Serviços
Salário: 706,26 mil
Indicação: PT


PATRIMÔNIO AMPLIADO


Correio Braziliense – 25.6.09


Apartamentos no Alto Leblon, região nobre da Zona Sul do Rio de Janeiro, joias raras, obras de arte, e reserva de dólares americanos e carros importados passaram a fazer parte do patrimônio dos diretores da Petrobras. Documentos obtidos pelo Correio/Estado de Minas mostram que o patrimônio de alguns diretores praticamente duplicou nos últimos cinco anos. O valor total dos bens do diretor de Serviços, Renato de Souza Duque, saltou, por exemplo, de R$ 700 mil para 1,5 milhão, nesse período.


O diretor investiu grande parte de seus vencimentos na construção de uma casa em Penedo, distrito de Itatiaia, no interior do Rio de Janeiro. De acordo com corretores da região, o imóvel, adquirido em 2007, está avaliado em R$ 500 mil. Nesse mesmo ano, ele comprou um apartamento de três quartos na Avenida Canal de Marapendi, em Jacarepaguá, avaliado em R$ 350 mil. Duque possui ainda outros dois imóveis na cidade. Um deles registrado em nome de um de seus dependentes. Além disso, o diretor investiu recentemente R$ 100 mil em joias, obras de arte e dólares norte-americanos.


Os altos salários também mudaram a vida do diretor de Operações e Exploração (1) da Petrobras, Guilherme Estrella, que teve uma evolução patrimonial ainda maior. O patrimônio de Estrella saltou de R$ 180 mil para quase R$ 1 milhão nos últimos seis anos. O diretor, que se mudou recentemente para o Leblon, investiu quase R$ 300 mil numa casa no município de Nova Friburgo. Além disso, Estrella comprou um carro Mercedes Bens e investiu R$ 500 mi no mercado financeiro.


1 - FUNÇÃO QUALIFICADA
A área de negócios de Exploração e Produção da Petrobras é responsável pela pesquisa, localização, identificação, desenvolvimento, produção e incorporação de reservas de óleo e gás natural dentro do território nacional.


APROVADO EM ASSEMBLÉIA


Correio Braziliense – 25.6.09


A Petrobras, por meio da assessoria de imprensa, informou ontem que a empresa tem a política de não divulgar os salários individuais dos integrantes de sua administração. Mas, de acordo com a assessoria, os vencimentos globais do 35 membros da diretoria executiva, do conselho de administração e do conselho fiscal subiram de R$ 4,8 milhões em 2003 para R$ 7,4 milhões em 2008.


Os vencimentos — que incluem honorários mensais, gratificações de férias, 13º e participação nos lucros da empresa — teriam sido aprovados em assembleias gerais dos acionistas, ocorridas anualmente. “O aumento nesse período foi de 54%, enquanto o reajuste concedido aos demais empregados da Petrobras foi de 62%”, informa a nota da assessoria encaminhada ao Correio/Estado de Minas.


A assessoria de imprensa informou, ainda, que em 2008 os vencimentos totais dos diretores chegaram a R$ 9,8 milhões, o que significou crescimento de 32,4% em um ano. Isso significa que, a partir dessa data, cada diretor passou a receber um total de vencimentos mensais estimado em R$ 80 mil. Mas, de acordo com a Petrobras, “com base no relatório financeiro e nas demonstrações contábeis da empresa, naquele período o maior vencimento mensal de um diretor foi de R$ 59.465,04.


Ainda de acordo com a Petrobras, o salário global dos mesmo executivos foi reduzido para R$ 8,2 milhões em 2009. “Comparações entre a remuneração dos diretores e conselheiros das maiores empresas do país, publicadas nos jornais, mostram que a remuneração da Petrobras é a menor entre elas”, indica a nota.(ARJ)


SUPERSALÁRIOS DA PETROBRÁS PODEM SER ALVO DA CPI


O Estado de S. Paulo – 26.6.09


Diante da revelação que os integrantes da cúpula da Petrobrás recebem supersalários, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) cobrou ontem a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobrás já na próxima semana. De acordo com reportagem do jornal Correio Braziliense, documentação enviada pela Petrobrás ao Ministério da Previdência e à Receita Federal mostra que os vencimentos - salários mais bônus - de cada um dos diretores e do presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, fecharam 2007 em torno de R$ 710 mil, uma média mensal salarial de R$ 60 mil.


O senador, autor do requerimento de criação da CPI, criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, por autorizarem reajustes de até 90%, entre 2003 e 2007, para a diretoria executiva da estatal. A diretoria é em boa parte loteada entre nomes do PT e do PMDB. Indicado pelo PT, o diretor de Operações e Exploração da empresa, Guilherme de Oliveira Estrella, por exemplo, teve rendimentos aumentados de R$ 368.711,36 em 2003, para R$ 701.764,79 em 2007.


"É evidente que dirão: Mas isto é legal?. Não há dúvida, deve ser legal; afinal, os atos foram praticados em função de normas estabelecidas pela empresa, com o aval do Poder Executivo, já que quem preside o Conselho da Petrobrás é a ministra da Casa Civil. Nós não estamos discutindo a legalidade: nós estamos questionando a moralidade", afirmou Dias.


Para ele, a necessidade da CPI estaria mais do que justificada pela irregularidades reveladas nas operações Águas Profundas, Royalties e Castelo de Areia da Polícia Federal. "São fatos relevantes que justificam investigação em profundidade, para a necessária responsabilização civil e criminal, se os ilícitos forem confirmados. A CPI tem a função de colocar o mal à luz para chegar ao conhecimento da população, que pressiona e exige providências", disse ele, referindo-se a denúncias de superfaturamento e pagamentos indevidos nas obras da refinaria de Pernambuco e na construção de plataformas para exploração de petróleo em alto mar.


Ao contrário dos demais servidores da Petrobrás, cujos aumentos salariais são definidos em acordo coletivo da categoria, os vencimentos dos diretores são decididos em assembleia-geral ordinária do conselho administrativo e fiscal da empresa, uma vez por ano. A assembleia deste ano, diz a reportagem, aprovou, em 8 de abril, a destinação de R$ 8,2 milhões para o pagamento de salários e benefícios aos diretores, conselheiros e presidente da estatal.


Presidido por Dilma, o conselho de administração da Petrobrás é integrado ainda pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o próprio Gabrielli, o empresário Jorge Gerdau, e o ex-ministro das Minas e Energia Silas Rondeau.


SALÁRIO ALTO EM DUAS VERSÕES


Correio Braziliense – 26.6.09


O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, confirmou ontem os altos salários pagos aos diretores da estatal, divulgados pelo Correio/Estado de Minas. “É isso mesmo: em 2007, o salário médio anual foi de R$ 710 mil”, disse Gabrielli em entrevista à Rádio CBN. Mas, ao tentar explicar o aumento de 90% nos vencimentos dos executivos da empresa no período de 2003 a 2007, Gabrielli acabou desmentindo a versão da própria assessoria de imprensa da estatal, divulgada no blog da empresa.


De acordo com o diretor da Petrobras, até 2007 os vencimentos dos diretores eram reajustados em dissídio coletivo no mesmo parâmetro dos demais funcionários da empresa. Segundo ele, a partir de 2008, uma assembleia dos acionistas decidiu congelar os salários dos diretores da empresa. O blog da Petrobras conta uma história diferente.


O aumento dos salários dos diretores e dos membros dos conselhos fiscal e de administração teria sido fixado numa assembleia dos acionistas em 2 de abril de 2007. A reunião decidiu elevar o montante de recursos destinados aos salários e outros benefícios do executivos de R$ 4,8 milhões para R$ 7,4 milhões. Esse montante destinava-se ao pagamento de salários, bônus e férias de 35 membros da diretoria e dos conselhos fiscal e de administração. Mas, segundo o blog, a maior parte da bolada ficou mesmo com os membros da diretoria.


Os membros do conselho fiscal receberam apenas 10% do valor dos vencimentos dos diretores da estatal. Diferentemente do que Gabrielli informou à rádio, o blog explica ainda que os acionistas decidiram, em assembleia em 4 de abril de 2008, aumentar o total dos vencimentos dos diretores e membros dos conselhos fiscal e de administração para R$ 9,8 milhões. Em outras palavras, em menos de um ano, os salários dos diretores e demais executivos subiram 32,41%.


Levando-se em conta que em 2007 os diretores da estatal receberam R$ 710 mil, no ano seguinte o salário médio deles teria ficado em R$ 940 mil por ano, o que dá uma média de R$ 78,32 mil por mês. De acordo com a assessoria de imprensa da Petrobras, os vencimentos dos diretores somente foram congelados pela assembleia de acionista em abril deste ano. “Os salários dos diretores são os menores do mercado”, disse ainda Gabrielli à rádio.


O presidente da estatal afirmou que, incluindo o 13º salário, os vencimentos mensais dos diretores em 2007 era de R$ 54 mil e não RS$ 60 mil como o Correio/Estado de Minas havia divulgado. Mas os documentos da Receita Federal obtidos pela reportagem mostram que o 13º não está incluído no montante de cerca de R$ 710 mil recebido pelos executivos em 2007.


Bolada


De acordo com informações prestadas pela estatal à Receita, a bolada se refere apenas às verbas de salários, férias, participação nos lucros das empresas e outros bônus. A papelada mostra, por exemplo, que o diretor de Operações da empresa, Guilherme de Oliveira Estrella, recebeu, além de R$ 701.764,79 de vencimentos, R$ 153.361,63 da Petrus (fundo de Pensão da Estatal) e R$ 84.648,24 de 13º salário.


SOB LULA, PETROBRAS ELEVOU SALÁRIO DA DIREÇÃO


Folha de S. Paulo – 26.6.09


Os gastos da Petrobras com os salários pagos aos seus diretores do primeiro escalão cresceu 54% de 2003 -primeiro ano do governo do PT- a 2007. Nesse período, a inflação acumulou 28%. A remuneração dos diretores, porém, fica abaixo da de empresas privadas. Hoje cada um dos seis diretores e o presidente recebem, em média, cerca de R$ 55 mil mensais (cerca de R$ 710 mil/ano).
Alvo de uma CPI no Senado, a Petrobras elevou muito seu gasto com salários, bônus e benefícios sob o governo Lula.


Em 2003, a estatal pagou R$ 4,8 milhões em remunerações à diretoria, aos nove integrantes do Conselho de Administração e aos cinco membros do Conselho Fiscal. A cifra saltou para R$ 7,4 milhões em 2007 e para R$ 9,8 milhões em 2008.Diante da perspectiva de lucros menores por causa da queda do preço do petróleo, o valor reservado para este ano foi reduzido para R$ 8,2 milhões.
A Petrobras alega que os vencimentos médios de seus empregados subiu mais (62% de 2003 a 2007) do que os da diretoria.


Diz ainda que os salários pagos pela iniciativa privada a seus gerentes são bem mais elevados e que os reajustes visam reter talentos e impedir a migração para outras empresas. Além disso, o crescimento do lucro da Petrobras elevou os vencimentos, porque a estatal premia seus empregados anualmente com PLR (Participação nos Lucros e Resultados), paga de acordo com a faixa salarial e metas cumpridas.


Segundo o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, a remuneração da diretoria da empresa é das mais baixas do mercado e está congelada desde 2008. Até 2007, a correção acompanhava o reajuste dos demais funcionários, mas ficou definido que não haveria reajuste em 2008 e 2009. "A remuneração média da diretoria é de R$ 54 mil por mês: é um dos menores salários das grandes empresas brasileiras."


O presidente da Usiminas, Marco Castelo Branco, ganhou mais de dez vezes o salário de Gabrielli em 2008, embora a siderúrgica tenha lucrado R$ 3,2 bilhões, ou 10% do lucro da Petrobras (R$ 33 bilhões). A Vale paga a seus executivos R$ 70 milhões/ano. A Ambev pagou R$ 26,3 milhões/ano -numa média de R$ 2 milhões para cada executivo. As duas também lucram menos que a Petrobras.
Gabrielli diz que a empresa só consegue manter os profissionais graças a um bom plano de carreira: "Temos políticas de longo prazo. Mantemos os melhores profissionais pelo plano de carreira." Ainda assim, a estatal perdeu muitos talentos nos últimos anos para a concorrência, como Paulo Mendonça e Rodolfo Landim, contratados pela OGX de Eike Batista.


“ESTAMOS PREPARADOS PARA O VALE-TUDO”


O Estado de S. Paulo – 28.6.09


Às vésperas da instalação da comissão parlamentar de inquérito (CPI), criada no Senado em 15 de maio para apurar um rol de cinco denúncias de irregularidades envolvendo a Petrobrás, o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, afirma que há uma campanha de criação de "fatos artificiais" para justificá-la. Em entrevista exclusiva ao Estado na noite de sexta-feira, na sede da empresa, Gabrielli citou os maiores jornais e revistas do País como participantes de uma espécie de ciranda, na qual parlamentares de oposição alimentariam de denúncias a imprensa para depois reproduzir as acusações no Congresso, pedindo inclusão na CPI. "Será que há algum esquema de criação de fatos artificiais?", indaga, para emendar em seguida com a resposta: "Não há dúvida."


Para o presidente da Petrobrás, o ambiente de instalação da CPI estaria imerso numa espécie de "vale-tudo" e avisa que está preparado para embarcar no jogo: "Nós estamos preparados para um vale-tudo! Nós estamos preparados. Nós não atacamos ninguém ainda. Só temos nos defendido." E arremata: "O ataque também faz parte da defesa". A seguir, os principais trechos da entrevista:


A expectativa da Petrobrás é de instalação da CPI esta semana?
Não sei. Acho que o Congresso vai decidir o que fazer. Imagino que a dinâmica interna parlamentar vai determinar o que os congressistas vão decidir. Eu não tenho a menor opinião hoje, nesse momento, sobre se vai instalar ou não.


O senhor ainda tem dúvidas se vai instalar ou não?
Não sou senador. Sou o presidente da Petrobrás.


O senhor percorreu gabinetes do Senado para tentar dissuadir os parlamentares da criação da CPI. Qual foi a sua sensação dessas conversas?
Os parlamentares concluíram que precisavam criar a CPI porque veio o pedido de instalação que foi lido no plenário. Portanto, do ponto de vista do ritual e do processual legislativo, devia ser instalada. Conversei com os senadores e alguns acharam que não havia necessidade. Mas os senadores da oposição acharam que tinha de ter uma CPI. Nossa argumentação, muito explícita desde aquele momento, é que os temas que estão nos requerimentos estão sob investigação neste momento por órgãos competentes para isso, a Polícia Federal, o Ministério Público, o TCU, a Receita Federal, os diversos órgãos de investigação da companhia. Portanto, a investigação que a CPI poderia trazer, do ponto de vista legal, contribuiria muito pouco. O que poderia trazer problema é a criação de um clima nacional de denúncia. Buscar denúncia para criar possibilidade de investigar coisas que vão aparecer. Isso, na língua portuguesa antiga, chama-se coscuvilhice. A CPI legalmente tem de ser criada para fato determinado. Mas, uma vez criada a CPI, temos de obedecer, atender aos requisitos da CPI, ponto. Não tem alternativa para nós.


Nesse sentido está surgindo uma discussão sobre a remuneração dos executivos da Petrobrás.
Pois é, isso é um exemplo. Infelizmente até o Estadão entrou nessa matéria muito ridícula. Uma matéria que não tem fato novo nenhum porque, inclusive, a divulgação disso é da nossa própria assembleia-geral, que é pública. A informação refere-se à remuneração dos dirigentes da companhia de forma bastante truncada, envolve um claro indício de crime de quebra de sigilo fiscal, porque, aparentemente, o repórter que fez a matéria pelo Correio Braziliense obteve de forma fraudulenta informações fiscais protegidas por sigilo (o jornal publicou reportagem mostrando que houve reajuste de 90% nos salários da direção da empresa entre 2003 e 2007). Dessa maneira, portanto, de um lado ela é evidência de um crime; de outro lado, do ponto de vista de valor, os valores são bastante modestos, comparados com empresas do mesmo porte. Todos os dirigentes da Petrobrás receberam R$ 7,108 milhões no ano de 2007. O Itaú teve R$ 244 milhões; o Bradesco, R$ 170 milhões; o Unibanco, R$ 153 milhões, o Gerdau, R$ 59 milhões; Vale, R$ 43 milhões; Sadia, R$ 16 milhões; Perdigão, R$ 14 milhões; Aracruz, R$ 9 milhões, CSN, R$ 9,5 milhões. Portanto, a Petrobrás é a menor de todas. Se comparar com empresas internacionais, então, a Exxon teve US$ 13,7 milhões, a BP, US$ 4,2 milhões. Então é absolutamente pequeno o tamanho da Petrobrás...
O que tem se questionado não é tanto o valor, mas o reajuste de 90% em um período em que a inflação acumulou 33,92%...
O valor dos dirigentes da Petrobrás é o teto da carreira. O presidente ganha 15% acima do salário do maior gerente e os diretores, 10% acima. Então, se você tem um salário que é baixo para diretores, achata toda a cadeia de salários da companhia. Isso torna mais vulneráveis os profissionais da companhia às atrações de mercado. Evitamos isso com uma política de retenção de talentos, que envolve carreira profissional de longo prazo, treinamento, condições de trabalho adequada. Isso faz com que as pessoas gostem de trabalhar na companhia e queiram ficar na companhia, mesmo ganhando menos. O reajuste dos salários dos diretores da Petrobrás acompanhou os acordos coletivos. O reajuste dos trabalhadores da Petrobrás não é relacionado à inflação. Houve aumento real, sim, nestes últimos anos. Os trabalhadores ganharam, inclusive, mais do que o reajuste dos diretores. Não há nada que motive um escândalo. O que estão fazendo é exclusivamente coscuvilhice, é tentativa de criar fofoca muitas vezes repetida para virar verdade.


Como a Petrobrás está se preparando para a eventual instalação da CPI esta semana? Esses temas podem entrar na investigação?
Do ponto de vista legal, na nossa avaliação, não. Porque são temas que não estão pedidos na CPI. Há uma sistemática clara: a imprensa nos últimos seis, sete, oito meses tem, no fim de semana, uma matéria bombástica de acusação contra a Petrobrás; na segunda-feira, uma suíte (sequência da reportagem) que reproduz essa matéria na boca de um parlamentar da oposição pedindo para (o assunto) entrar na CPI. É sistemático: ou é O Globo, ou o Estadão, ou a Folha de S. Paulo, ou uma revista.


O senhor citou a existência de crime fiscal...
Há um crime fiscal. E a empresa vai tomar providências. Estamos avançando no nosso jurídico avaliando para saber o que fazer. Evidente que, como crime de sigilo fiscal é de ação pública, talvez tenhamos de representar ao Ministério Público. Estamos discutindo ainda o que fazer. Mas há um crime de sigilo fiscal assumido pelo repórter. Não pode ficar impune uma coisa dessas.


Por falar em quebra de sigilo, a quebra de sigilo telefônico do executivo Wilson Santarosa preocupa?
Esse é outro tipo de situação absurda. Tem uma investigação que ocorre no ano 2006, que continua em segredo de Justiça; Santarosa nunca foi intimado a falar; o jornal O Globo publica uma matéria cujo lead (abertura) é uma imprecisão absoluta em termos de texto - se a quebra do sigilo telefônico refere-se ao período de 2006 ou se foi pedida em 2006, a matéria não fica clara. Os nossos advogados procuram investigar em Cuiabá o processo e não conseguem identificar. E O Globo continua publicando matéria sobre algo que ninguém consegue identificar. Algo muito estranho está acontecendo. Não é estranho para quem está interpretando que isso é apenas criação de factoides, coscuvilhices, mexericos.


Mas preocupa uma quebra de sigilo telefônico do Santarosa?
Não. O problema não é na quebra de sigilo telefônico, se tem uma investigação de acordo com a lei, etc., Não é esse o ponto. O ponto é: onde O Globo conseguiu a informação de que houve esse pedido? Quem passou essa informação? Por que só O Globo tem acesso a essa informação? Por que essa informação é imediatamente reproduzida por algum senador da oposição? Será que há algum esquema de criação de fatos artificiais? Não há dúvida.
E a que o senhor atribui esse...


(cortando) Atribuo à ideia de uma CPI que vai buscar o que investigar, que não tem foco, que não sabe o que fazer. Por isso o senhor acha que a CPI pode não ser instalada?
Não posso dizer que a CPI não vai ser instalada. A CPI está lá para ser instalada. Isso é uma dinâmica interna do Parlamento. Eu sou parte externa ao processo. Sou investigado, enquanto presidente da Petrobrás.


Explique por que a gerência executiva de Wilson Santarosa é formada por gerentes regionais do PT?
Não é verdade. A Petrobrás tem 2 mil, 3 mil e tantos gerentes.
Estamos falando dos cinco gerentes regionais da área dele.
Não é verdade o que vocês estão dizendo. Vocês estão pegando gerentes regionais que têm história sindical absolutamente legítimas, profissionais de longo tempo de companhia...Mas que não têm carreira construída na área de comunicação da companhia...Na área de responsabilidade social, têm. Na área de articulação com comunidades, na área de vinculação institucional com o poder público, na área de relação com a comunicação interna... Inclusive por terem sido sindicalistas, têm essas relações. É positivo, não é negativo ter sido sindicalista.


A Petrobrás tem 240 mil contratos e o senhor diz que não há como dizer que todos são corretos?
Não posso. Temos de garantir que todos os 240 mil contratos devem ter seguido uma mesma sistemática. Tem uma auditoria, corregedoria, avaliação posterior, segurança empresarial, avaliação externa, investigações particulares de evidências... Agora, nada é perfeito. Mas temos de, encontrando as imperfeições, corrigir as imperfeições.


Qual a estratégia da Petrobrás para a CPI?
A Petrobrás está pronta para responder todos os temas do requerimento. Não temos problema nenhum.


Quantas pessoas estão envolvidas especificamente nisso?
Em tempo integral, umas 20 ou 30 pessoas, só. Mas toda a empresa é mobilizada. Todo o meu setor de orçamento está respondendo ao TCU. Porque tem de responder. Então, para de fazer os orçamentos para dar respostas ao TCU.


De alguma forma a CPI já está impactando o andamento de negócios, a assinatura ou a renovação de contratos?
Nós tendemos a reduzir o ritmo. Tem gente que não pode fechar orçamento porque está tratando de outras coisas. Não é ainda significativo. Se eu levaria um tempo X para fazer o orçamento, agora vou levar um tempo X mais alguma coisa, porque os técnicos estão voltados para responder problemas internos. Isso tem impacto. Se eu tenho dificuldades para constituir comissões de licitação. Isso também tem um impacto. Isso a gente está falando em milhares de coisas.


Se a situação perdurar, em quanto tempo o impacto deverá ser significativo?
É impossível de responder, porque não sabemos a profundidade, não sabemos o grau... O que tem acontecido nestes dois últimos fins de semana são coisas escandalosas. O que aconteceu na imprensa sobre a quebra do sigilo fiscal dos salários de diretores e da quebra do segredo de Justiça do Santarosa... vale tudo! Você pode criar, recriar, realimentar, redefinir e tentar fazer.


ENTREVISTA DE GABRIELLI IRRITA ATÉ BASE ALIADA


O Estado de S. Paulo – 29.6.09


A entrevista do presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, publicada ontem pelo Estado, deixou a bancada do governo em situação embaraçosa e prejudicou o esforço do Palácio do Planalto em evitar - ou adiar - a instalação da CPI, criada pelo Senado, para investigar irregularidades na estatal. Senadores do governo e da oposição ouvidos ontem concordaram que Gabrielli foi inábil e mostrou uma arrogância que prejudica a estratégia de negociação dos governistas na hora mais crucial.


No trecho mais forte da entrevista, o presidente da Petrobrás disse que, na falta de fatos determinados para investigar, senadores estariam apelando para "fatos artificiais" armados em combinação com a imprensa, ou a "coscuvilhices" (mexericos). A seguir fez uma ameaça velada: "Estamos preparados para um vale-tudo". E acrescentou: "O ataque também faz parte da defesa".


A reação veio rápida. "Essa arrogância do Gabrielli esconde medo", disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).Líder do PTB e vice-líder do governo no Senado, Gim Argello (DF), um dos articuladores do movimento para barrar a CPI, ficou desconsolado com a entrevista. "Não vejo necessidade em bater no Congresso. Não vejo parlamentares com intenção de detonar a Petrobrás", observou. Para o senador, está provado que bater no Congresso "não é o melhor caminho para evitar uma CPI".


Argello deixou claro, todavia, que não vê necessidade de instalação da CPI porque ela, a seu ver, não trará qualquer benefício ao País ou à empresa, que é um orgulho nacional e nesse momento de crise mundial dá significativa contribuição à estabilidade econômica. "A Petrobrás vem dando lucro, puxa para cima o PIB e os investimentos", disse.


A sensação geral, porém, é de que o presidente da Petrobrás vem desde o início atropelando a estratégia do próprio governo. O primeiro erro apontado foi a perambulação de Gabrielli nos gabinetes do Senado, há duas semanas, na presunção de que iria dobrar a oposição. "Agora ele repete o erro com ameaças veladas", criticou o senador Renato Casagrande (PSB-ES), da base aliada.


Para Casagrande, essa não é uma boa estratégia. "O governo tem de administrar a CPI e não partir para a guerra fratricida", disse ele. "A impressão que fica é que há muita denúncia inexplicável e, para se livrar delas, a Petrobrás joga tudo no embate", observou.


"É autoritária a postura de quem combate CPI", atacou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento de convocação da CPI. Para ele, há muitos "fatos nebulosos" na estatal para serem investigados."A entrevista (de Gabrielli) usa a tática da mistificação e tenta amedrontar o Parlamento com a ameaça do vale-tudo." Para Dias, a tática da ameaça pode ter efeito contrário.


As denúncias elencadas na CPI incluem irregularidades em contratos milionários da estatal até manobras contábeis para sonegação de R$ 4 bilhões em impostos. Estão ainda incluídas acusações de beneficiamento a prefeituras e projetos de políticos petistas na destinação de recursos da Petrobrás e fraudes na distribuição de royalties.


A CPI deve requisitar também o relatório de recente sindicância interna mantida sob sigilo pela empresa, além de explicações sobre o empréstimo de R$ 20 bilhões tomados junto à Caixa Econômica Federal, entre outras operações suspeitas.


Para o senador José Agripino Maia (DEM-RN), a Petrobrás não deve se preocupar porque a CPI vai se ater a fatos concretos. "Em vez do vale-tudo, nós queremos o vale a verdade, com os fatos nebulosos passados a limpo", disse. "A base do presidente Lula tem que concordar com a instalação da CPI esta semana para não passar a impressão de que está escondendo a verdade", enfatizou.


PF INVESTIGA FRAUDES EM ESTALEIROS


Correio Braziliense – 4.7.09


A Polícia Federal está analisando todas as licitações realizadas pela Petrobras e pela Marinha nos últimos anos, onde as vencedoras foram três empresas investigadas durante a Operação Luxo, desencadeada na última quarta-feira. A PF suspeita que houve combinação de preços, conluio entre os concorrentes e superfaturamento. O caso foi descoberto durante uma apuração de contrabando e fraudes aduaneiras. Escutas telefônicas detectaram negociações ilegais entre estaleiros. Fontes da PF informaram que não há indícios de participação de servidores da estatal e da Marinha nas fraudes.


A Operação Luxo foi realizada de forma discreta em Fortaleza e no Rio de Janeiro. Cinco empresários do ramo náutico acabaram presos. Eles são acusados de, entre outros crimes, fraudes nas licitações de construção de navios, o que envolve negociações milionárias. Pelo menos três grandes estaleiros estão sob suspeita. No Ceará, foi preso Gil Bezerra, a mulher dele, Elisa Gradvohl, e o filho do casal, Robert Gil, proprietários da Indústria Naval do Ceará (Inace). O negócio da família envolvia construção de navios para a Marinha. A corporação, por meio da assessoria, descartou relação com o grupo, o que foi endossado pela Polícia Federal.

A Petrobras informou, por meio da gerência de comunicação, que identificou contratos com duas das empresas citadas. Com uma delas, a Marinar, localizada no Rio de Janeiro, a estatal tem 39 contratos de fretamento de embarcações, 13 deles vigentes. "Com a Internave (outro estaleiro fluminense) são dois contratos, um encerrado em 2006 e outro vigente até 2012. Esses dois referem-se a reparos em sinalização flutuante para navegação", disse a Petrobras.


A REPÚBLICA SINDICALISTA INSTALADA NA PETROBRÁS


O Globo – 5.7.09


Protestar, ocupar, parar e resistir. A vida sindical parecia não trazer outros desafios para Wilson Santarosa e seus companheiros, líderes de jornadas que paralisaram refinarias e campos de produção da Petrobras nos anos 80 e 90. A cada crise, fosse um vazamento ou uma plataforma afundada, lá estavam eles, tentando alimentar o noticiário com denúncias.


Mas os tempos mudaram, e os desafios também. Hoje, pelo menos 22 deles saltaram das assembleias e dos piquetes para postos estratégicos na estatal. Juntos, formam a república sindical que movimenta uma poderosa máquina política, presente em projetos sociais de 938 prefeituras, no comando do segundo maior fundo de pensão do país e do programa do biodiesel.


A lista, levantada pelo GLOBO, aponta ex-sindicalistas na presidência e nas gerências de Gás e Energia, Comunicação Institucional e Recursos Humanos da Petrobras, além da Transpetro e da direção da Petros, fundo de pensão com 64 mil participantes ativos e patrimônio de R$ 47 bilhões. Dos 22 nomes, egressos da Federação Nacional dos Petroleiros (FUP) e da Articulação Sindical, versão da corrente majoritária petista no sindicalismo, 17 são vinculados ao PT - como ex-candidatos, ex-colaboradores de governo, exparlamentares e doadores de campanha - e um ao PCdoB.


A maioria do grupo militou nas bases de São Paulo e Rio de Janeiro, mas há também ex-dirigentes da Bahia e do Ceará. Nas greves de 1983, ano da fundação da CUT, e principalmente de 1995, quando os petroleiros pararam a empresa por 32 dias, eles forjaram a fama de "ponta firme", gíria sindical para militante determinado e confiável. Três deles chegaram a processar a Petrobras e a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Um, inclusive, acompanhou militantes do MST na invasão da sede da ANP no Rio.


Do discurso inflamado, porém, nada restou. No poder, o grupo trocou o megafone pelos ternos e os jornais do sindicato pelas grandes campanhas publicitárias.
Alguns compraram empresas. Outros saíram de vilas operárias para morar em imóveis de bairros nobres. São assediados pela classe política e empresarial, e já aprenderam a circular em salões e roteiros internacionais.


Responsável pela verba publicitária, pelo relacionamento com a mídia e pela distribuição de recursos para programas sociais e ambientais (só em 2008 foram destinados R$ 544 milhões para mais de 2.300 projetos), a Comunicação Institucional é o abrigo preferencial dos ex-sindicalistas. Sete deles estão lá, entre os quais Wilson Santarosa, ex-presidente do Sindicato dos Petroleiros de Campinas (SP), que comanda a gerência. Além dessa, as quatro gerências regionais, a Comunicação de Crise e a Gerência de Relacionamento (Comunicação interna) estão sob o controle de ex-dirigentes sindicais.


Demitido por greve hoje gerencia crises


O gerente de Crise, Erasmo Granado Ferreira, é o exemplo mais emblemático dessa mudança de atitude dos sindicalistas. Como dirigente do SindiPetro de Campinas, partiu para o confronto com a estatal e acabou demitido na greve de 1983, sendo anistiado em 2004. Hoje, comanda com zelo extremo o controle de dados que possam comprometer a imagem da empresa.


Com 1.150 funcionários, a Comunicação Institucional gastou nos últimos três anos mais de R$ 900 milhões anuais. Seus gerentes são acusados de favorecer prefeituras aliadas na distribuição de recursos sociais. Este ano, por exemplo, o PT lidera as prefeituras do Nordeste que tiveram festas juninas patrocinadas pela empresa - 20 de um total de 86, seguidas pelo PMDB, com 12.


O RH é outro setor estratégico nas mãos de sindicalistas. O gerente, Diego Hernandes, ex-dirigente do SindiPetro de Mauá, responde pela relação com sindicatos, associações de classe e a Petros. Apesar da experiência, a tarefa é espinhosa. O grupo de Diego deixou de ser maioria absoluta no setor petroleiro - dos 17 sindicatos, seis são dissidentes - e o gerente, ao lado do presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, já foi alvo de enterro simbólico realizado por aposentados.

No setor de Gás e Energia, o gerente de Desenvolvimento Energético, Mozart Schmitt de Queiroz, é exdirigente do SindiPetro do Rio. Ele cuida de temas como o biodiesel.
Na presidência, eram dois ex-dirigentes, mas o staff subiu para três com a chegada de Rosemberg Pinto, transferido da Comunicação após ser alvo de denúncia por uso político de verbas sociais.


EMPRESA PATROCINADA LEVOU SANTAROSA A ROLAND GARROS


O Globo – 5.7.09


A Koch Tavares, empresa de marketing esportivo patrocinada pela Petrobras, levou pelo menos duas vezes o gerente executivo de Comunicação Institucional da estatal, Wilson Santarosa, para assistir ao torneio de Roland Garros, em Paris. Nas duas ocasiões, o executivo teria ficado cinco dias na capital francesa. O diretor comercial da Koch, Douglas Jorge, admitiu a possibilidade de ter havido mais uma viagem: - Duas, com certeza. Mas podem ter sido três. Não me lembro bem.


Ele foi convidado porque, durante o torneio, se reuniu com representantes da Associação de Tênis Profissional para discutir a internacionalização da marca Petrobras em eventos de tênis. Roland Garros era uma boa oportunidade. Somente no ano passado, a estatal repassou R$ 8,3 milhões para a Koch, patrocinada pela empresa desde 2004, quando lançou a Copa Petrobras de Tênis, na forma de uma série de torneios pela América do Sul (Roland Garros não tem patrocínio da Petrobras). Foi neste ano, segundo Douglas, que a Koch teria promovido a primeira viagem a Paris. Geralmente, a Koch hospeda os seus convidados vips no luxuoso hotel Plaza Athénée, mas o diretor Comercial afirma não se recordar onde o executivo ficou.


Mulher é lotada na Transpetro, e filha, em ONG parceira


Santarosa comanda as verbas de publicidade e patrocínio da Petrobras desde 2003. Quando foi chamado, ele estava à frente da Ceasa, a central de abastecimento de Campinas, na gestão do PT. Ex-presidente do SindiPetro Campinas, ex-dirigente da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e da CUT-SP, nunca foi uma liderança do partido.


Pelo menos mais dois parentes seus têm relação com a Petrobras. Geide Miguel Santarosa, segunda mulher e ex-assessora de imprensa do SindiPetro Campinas (onde se conheceram), é ouvidora-geral da Transpetro. O casal mora com a filha, pré-adolescente, na Zona Sul do Rio.


As duas filhas do primeiro casamento ficam em Campinas. Uma delas, a bióloga Patricia Lia Santarosa, trabalha há três anos numa entidade que tem parceria com a estatal na cidade, a Fundação José Pedro de Oliveira (FJPO). Criada por lei municipal há 28 anos, a fundação trabalha na preservação da Mata de Santa Genebra, no bairro de Barão Geraldo.


Em 2003 e 2004, a Petrobras firmou um convênio com a FJPO para o plantio de uma área de 55 mil metros quadrados no entorno da mata utilizando mudas do viveiro local. O patrocínio, de acordo com a prefeitura, foi de R$ 126 mil. Na reserva florestal e no site da fundação, a Petrobras consta como parceira da Mata de Santa Genebra até hoje, assim como a Comgás e outras patrocinadoras, mas, de acordo com o presidente da fundação, José Aires de Moraes, a estatal não financia projetos "há anos".


Moraes, que tomou posse como presidente da entidade em janeiro, afirmou que sabe apenas da parceria da FJPO com a Petrobras para a recuperação da borda da mata, e não sabia dizer o valor total do projeto. Sobre a bióloga Patrícia Lia Santarosa, Moraes afirmou que não existe um quadro de funcionários da própria fundação, e que todos são cedidos por parceiros ou pela prefeitura.
- Patricia foi cedida pela prefeitura. É uma ótima funcionária.


Formada na Unicamp, ela é coordenadora técnico-científica da fundação. Em janeiro, foi nomeada para a Comissão de Licitação da FJPO, de acordo com o Diário Oficial da prefeitura. A prefeitura foi procurada para informar se Patrícia é funcionária de carreira ou se tem cargo comissionado. No entanto, até o fechamento da edição, a assessoria de imprensa não retornou os telefonemas.


APÓS RACHAR SINDICATOS DE PETROLEIROS, OPOSIÇÃO DIVIDE O
CONTROLE DA PETROS


O Globo – 5.7.09


RIO e SÃO PAULO. Controlar setores estratégicos da Petrobras, como a Comunicação Institucional, não assegurou aos fundadores da Federação Única dos Petroleiros (FUP), ligada à CUT e à tendência majoritária do PT, a hegemonia de mais de duas décadas na representação sindical dos petroleiros. Primeiro, há três anos, um grupo dissidente conseguiu atrair seis dos 17 sindicatos do setor para uma central alternativa, a Frente Nacional dos Petroleiros. Em seguida, já este ano, as três vagas do Conselho Deliberativo da Petros (fundo de pensão da Petrobras) indicadas por funcionários foram preenchidas por representantes da oposição.

Como o conselho é composto por seis membros, sendo os três restantes indicados pela Petrobras, tudo indica que o presidente do colegiado, Wilson Santarosa, terá de exercer pela primeira vez o direito ao voto de minerva para aprovar alguma decisão no segundo maior fundo de pensão do país.
As fraturas no campo sindical teriam começado quando o grupo de Santarosa,
que se notabilizou nos anos 90 por enfrentar a reforma da Previdência Social promovida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, passou a defender, no poder, mudanças nas regras de aposentadoria que tanto havia combatido.


A principal delas foi a repactuação do regime de aposentadorias da Petrobras, que passou de "benefício definido" para "contribuição definida". A troca representa uma profunda transformação na relação do fundo de pensão da estatal com os seus participantes. Se, até então, os funcionários da ativa contribuíam sabendo exatamente quanto passariam a receber após a aposentadoria, o novo regime só define, agora, o valor da contribuição mensal. No fim da carreira ativa, o montante recolhido apontará o valor exato da contribuição.


Mudança em aposentadoria


O racha de 2005 na base petroleira teria acontecido depois que os dirigentes da FUP (grupo cutista, de Santarosa) incluíram a repactuação como resolução de congresso. Baseado na corrente sindical majoritária ArtiSind (Articulação Sindical), do PT, o grupo de Santarosa começou a ser construído nos anos 80 e fortaleceu suas raízes, a partir de 1995, com a organização dos ConFUPs (Congressos da Federação Única dos Petroleiros) e da greve que chegou a parar a estatal por 32 dias.

Para o professor Marco Aurelio Santana, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ, o fato de existir uma liderança sindical de esquerda no poder (no caso, o presidente Lula) provocou muitos dilemas na relação entre Estado, partido, sindicato e classe.
- Em um extremo, alguns dizem que isso fez com que setores sindicais ficassem mais próximos de Lula, em busca de defender um determinado projeto, e que vêm conseguindo proteger os trabalhadores e avançar em questões sociais. No outro extremo, mais crítico, isso levou ao que chamam de atrelamento, cooptação e domesticação dos movimentos - analisa.


Os trabalhadores ligados à oposição buscam agora outros meios de representação. O SindipetroCaxias rejeitou a FUP como negociadora de suas reivindicações em 2006 e exige a legitimação da Frente Nacional dos Petroleiros. Considerada cada vez mais "governista", a FUP vai perdendo sindicatos. Hoje, FUP e FNP os disputam.


“PASSEI PARA O LADO DE CÁ, DA GESTÃO EMPRESARIAL”


O Globo – 5.7.09


RIO e SÃO PAULO. As gerências de Comunicação da Petrobras estão entregues a ex-sindicalistas, a maioria ligada à CUT e ao PT, porque eles conhecem bem os setores de produção e têm facilidade com projetos sociais. A explicação foi dada pelo gerente executivo de Comunicação Institucional da empresa, Wilson Santarosa, ele próprio um ex-sindicalista, em entrevista ao GLOBO.


- Escolhi gente da operação porque eles conheciam o processo produtivo (refinaria, terminais e plataformas). O pessoal fez isso a vida inteira.


Por isso, a facilidade para lidar também com projetos sociais Brasil afora - disse.
Somente na Comunicação há sete ex-dirigentes de sindicatos petroleiros em cargos gerenciais. Como o setor cuida dos programas sociais da empresa, espalhados por quase mil municípios brasileiros, Santarosa admite receber uma romaria de políticos em seu gabinete. Disse que conhece praticamente todos os governadores e boa parte dos parlamentares do Congresso, prefeitos e vereadores.


- Mas tento evitar que as pessoas cheguem a mim. Dependendo da demanda, encaminho para os gerentes responsáveis - contou.


Santarosa, cuja gestão deve ser questionada pelos integrantes da CPI da Petrobras (ele é acusado de favorecer prefeituras da base aliada nos contratos de patrocínio), diz que pode ser alvo de retaliação, embora negue que ceda a pressões políticas. O gerente alega que todos os projetos que são apresentados em busca do patrocínio da estatal (de 2007 a 2008, mais de 25 mil propostas) recebem o mesmo tratamento na empresa.


Ex-operador de Transferência e Estocagem da Petrobras que se aposentou com 17 anos de casa, em 1992, quando o governo FH se preparava para fazer uma reforma nas regras da Previdência Social, Santarosa exibe em sua sala uma mesa repleta de troféus, conquistados ao longo de seis anos na Gerência de Comunicação.
"Nos tempos do sindicato, me notabilizei pelas sacadas"


Do conjunto de prêmios, conta, com orgulho, ter sido indicado para o Prêmio Caboré, um dos mais cobiçados do mercado publicitário brasileiro.
Também recebeu três vezes o Prêmio "Homem do Ano da Comunicação", oferecido pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (de 2004 a 2006).

Santarosa se considera um especialista em Previdência Social. Eleito, em 1995, conselheiro do fundo de pensão da Petrobras (Petros), disse que levantou detalhes de todos os problemas dos planos de aposentadoria da estatal, razão pela qual foi convidado pelo então presidente da empresa, José Eduardo Dutra, para assumir a presidência do Conselho em 2003.


- Passei para o lado de cá, da gestão empresarial. Em vez de guerra judicial, buscamos a via da negociação com os participantes. Foram seis anos até chegarmos a um acordo. Houve a repactuação, e a Petrobras se comprometeu a depositar R$ 5,7 bilhões no fundo - disse.


Ele também considera natural a sua escolha, em 2003, para assumir o comando da Comunicação da Petrobras.
- Nos tempos do sindicato, me notabilizei pelas campanhas, pelas sacadas. Como trabalhava com divulgação, disseram: esse é o cara da comunicação.


PETROBRÁS EXPLICA VIAGEM DE SEU GERENTE A PARIS


O Globo – 6.7.09


Em carta enviada ao GLOBO, a Petrobras informou que o gerente executivo de Comunicação Institucional da estatal, Wilson Santarosa, viajou à França - onde assistiu ao torneio de Roland Garros, convidado pela Koch Tavares - para negociar um torneio de tênis, na América Latina, válido para o ranking da Associação de Tenistas Profissionais.


Na reportagem publicada ontem, o GLOBO informou que Santarosa viajou pelo menos em duas oportunidades a Paris, para assistir Roland Garros, com as despesas pagas pela Koch Tavares, que, desde 2004, recebe recursos da Petrobras sem que, para isso, tenha passado por processo de licitação.


Sobre o fato de uma das filha de Santarosa, a bióloga Patrícia Lia Santarosa, ter sido contratada pela Fundação José Pedro de Oliveira, a estatal afirma que "a instituição não tinha mais o patrocínio da Petrobras desde o ano anterior" à contratação dela. No entanto, a ONG mantém até hoje, em seu site e no próprio projeto, o logotipo da Petrobras com a informação de que a estatal a apoia.

A Petrobras nega que tenha havido favorecimento na escolha de projetos sociais, ambientais e culturais patrocinados pela empresa. Diz que houve uma seleção pública, "com participação de comissões externas integradas por nomes de reconhecida atuação nas respectivas áreas". Porém, a reportagem nunca fez tal acusação, limitando-se a relatar as denúncias que já apareceram sobre o assunto.


A Petrobras disse ainda que possui 4.910 gerentes, "mas a matéria pinça somente 22 pessoas (menos de 0,5%) que possuem histórico sindical". Todavia, o critério para a produção da lista foi o envolvimento dos gerentes com o sindicalismo petista e as funções que o grupo exerce.


GERENTE DA PETROBRÁS GANHOU TERRENO DE PREFEITURA


O Globo – 7.7.09


RIO e SÃO PAULO. A prefeitura de Jales, a 590 quilômetros de São Paulo, doou para a Implalife Indústria de Produtos Odontológicos, que tem entre seus sócios o gerente de Recursos Humanos da Petrobras, Diego Hernandes, um terreno de 6,4 mil metros quadrados para a construção de uma fábrica. Jales, administrada pelo PT, é a segunda no ranking de cidades brasileiras beneficiadas por repasses da Petrobras ao Fundo da Infância e da Adolescência (FIA).


O convênio foi assinado, em novembro do ano passado, entre o prefeito de Jales, Humberto Parini, e o gerente de Comunicação Regional da Petrobras (São Paulo e Sul), José Aparecido Barbosa. Diego Hernandes e José Aparecido militaram juntos na Federação Única dos Petroleiros (FUP) e são ligados ao PT. Eles fazem parte de uma lista de 22 ex-sindicalistas - mostrada em reportagem do GLOBO no domingo - que ocupam cargos estratégicos na estatal.


A doação do terreno à Implalife ocorreu em dezembro de 2006. Nos três anos seguintes, Jales, com 48 mil habitantes, foi favorecida com verbas da Petrobras para a área social. O chefe de gabinete da prefeitura, Leo Huber, disse que não se lembra do valor do repasse de 2007, mas informa que Jales recebeu da estatal R$400 mil no ano passado e R$583 mil este ano. A cidade só perde para Campinas (SP) em volume de recursos da estatal destinados ao setor.


De acordo com dados da Junta Comercial, Hernandes tem 15% de participação da Implalife, cuja fábrica deverá entrar em operação no ano que vem. Por intermédio da Comunicação Institucional da Petrobras, o gerente disse que "a cessão da área é um incentivo da prefeitura local para atrair empresas e gerar empregos e renda para o município".


O capital social da empresa é de R$100 mil, divididos entre seis sócios: os irmãos Cavaglieri, o primo Diego Hernandes e o especialista na área odontológica Idelmo Rangel Garcia, coordenador de Odontologia do campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araçatuba.


EMPRESA DE IMPLANTE DENTÁRIO TENTA PARCERIA PARA PRODUZIR BIODIESEL


O Globo – 7.7.09


RIO e SÃO PAULO. O grupo controlador da Implalife, que tem como um dos sócios o gerente de Recursos Humanos da Petrobras, Diego Hernandes, planejou uma parceria com a estatal na área de produção de biodiesel. Em 2006, ano da doação de um terreno da prefeitura de Jales, administrada pelo PT, à Implalife, o gerente executivo de Desenvolvimento Energético da Petrobras, Mozart Queiroz, esteve naquela cidade para discutir o assunto. Hoje, passados três anos, a estatal e o grupo garantem que o projeto não evoluiu, mas a prefeitura sustenta que o biodiesel ainda está em seus planos. Mozart, como Diego Hernandes e José Aparecido Barbosa (gerente regional de Comunicação), é ex-sindicalista ligado à FUP e ao PT.


A Petrobras divulgou que não tem previsto projeto algum de biodiesel para Jales. Segundo Hernandes, a Implalife, empresa de fabricação de peças para implantes dentários que ainda não está em operação, "não atuará na área de biodiesel, atividade completamente diversa de sua finalidade atual".
Mas o chefe de gabinete de Jales, Leo Huber, disse que os planos para levar o biodiesel a Jales estão mantidos.


- O projeto ficou parado muito tempo, mas não está totalmente abandonado. A Petrobras e Embrapa garantem a compra do produto, mas não garantem o preço - disse.


Sobre a doação à Implalife, Huber afirmou que há três parques industriais na cidade e que todas as indústrias foram implantadas com terrenos cedidos pela prefeitura. Ele disse desconhecer que um dos sócios fosse executivo da Petrobras. Segundo ele, cada empresa apresenta um projeto de implantação industrial, atendendo às especificações da legislação local.


O empresário Paulo Cavaglieri negou que Hernandes, seu primo e sócio na Implalife, tenha influenciado na decisão da prefeitura de dar o terreno, obtido por meio do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Jales. A previsão, na época, era que fossem gerados 30 empregos:

- Como precisávamos de um sócio, eu mesmo procurei o Diego para propor a sociedade. Tínhamos conversado sobre ele se aposentar da Petrobras e falei da ideia da fábrica, que entraria em operação entre 2009 e 2010, época em que ele se aposentaria.


Hernandes fez doações para campanhas de chefes


Chefe do RH na gestão do presidente José Sergio Gabrielli e ex-chefe de gabinete do antecessor, José Eduardo Dutra, Hernandes já foi alvo de protestos dos petroleiros e engenheiros da estatal, descontentes com as políticas trabalhistas do governo e com a mudança de trajetória dos ex-sindicalistas que, no governo Lula, estão no poder. Ele doou R$25 mil para Dutra na campanha de 2006, em Sergipe, R$3 mil para seu ex-chefe Francisco Macena (ex-presidente da CET, de São Paulo, onde Diego trabalhou na gestão de Marta Suplicy), e R$3 mil para a candidata a vereadora pelo PT do Rio, a petroleira Maria Naustria. (Chico Otavio e Tatiana Farah).


PREFEITURA DE SP DENUNCIA GOVERNO NA OEA


Folha de S. Paulo – 8.7.09
MONICA BERGAMO


A Prefeitura de SP e entidades ambientalistas apresentam hoje representação contra o governo brasileiro na OEA (Organização dos Estados Americanos) por desrespeito aos direitos humanos e violação de pactos internacionais por ter postergado a distribuição de diesel menos poluente para abastecer a frota brasileira, prejudicando a saúde dos moradores das grandes cidades. O alvo é a Petrobras, responsável pelo combustível.


Além da prefeitura, que assina a representação por meio da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, endossam o documento entidades como o Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade, o Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), a Fundação SOS Mata Atlântica e o Greenpeace.


A iniciativa faz parte de uma ofensiva para constranger a Petrobras em organismos internacionais. ONGs lideram, por exemplo, campanha questionando a inclusão da estatal no Índice de Sustentabilidade da Dow Jones, que reúne companhias reconhecidas por sua responsabilidade social e ambiental.


A Petrobras tem reafirmado que "nunca descumpriu a resolução 315 do Conama [que estabelecia prazos para a adoção do combustível com menos enxofre]" e que o debate sobre a qualidade do ar está se realizando de forma leviana, com inverdades e antiética.


FUNDAÇÃO DE SARNEY DÁ VERBA DA PETROBRÁS A EMPRESAS FANTASMAS


O Estado de S. Paulo – 9.7.09


A Fundação José Sarney - entidade privada instituída pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para manter um museu com o acervo do período em que foi presidente da República - desviou para empresas fantasmas e outras da família do próprio senador dinheiro da Petrobrás repassado em forma de patrocínio para um projeto cultural que nunca saiu do papel.


Do total de R$ 1,3 milhão repassado pela estatal, pelo menos R$ 500 mil foram parar em contas de empresas prestadoras de serviço com endereços fictícios em São Luís (MA) e até em uma conta paralela que nada tem a ver com o projeto. Uma parcela do dinheiro, R$ 30 mil, foi para a TV Mirante e duas emissoras de rádio, a Mirante AM e a Mirante FM, de propriedade da família Sarney, a título de veiculação de comerciais sobre o projeto fictício.


A verba foi transferida em 2005, após ato solene com a participação de Sarney e do presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli. A Petrobrás repassou o dinheiro à Fundação Sarney pela Lei Rouanet, que garante incentivos fiscais às empresas que aceitam investir em projetos culturais. Mas esse caso foi uma exceção. Apenas 20% dos projetos aprovados conseguem captar recursos.


O projeto de Sarney foi aprovado pelo Ministério da Cultura em 2005 e está em fase de prestação de contas na pasta. Antes da aprovação, o próprio Sarney chegou a enviar um bilhete ao então secretário executivo e hoje ministro da pasta, Juca Ferreira, pedindo para apressar a tramitação. Em 14 de dezembro, o ministério comunicou que o projeto estava aprovado e, no dia seguinte, a Petrobrás anunciou a liberação do dinheiro. Procurada pelo Estado, a Petrobrás informou que a fundação foi incluída no programa de patrocínio como "convidada" e por isso não teve de passar pelo processo de seleção.


O objetivo do patrocínio, que a fundação recebeu sem participar de concorrência pública, que a estatal faz para selecionar projetos, era digitalizar os documentos do museu. "Processamento técnico e automação do acervo bibliográfico", como diz um relatório de contas.


Pela proposta original, que previa o cumprimento das metas até abril de 2007, computadores seriam instalados nos corredores do museu, sediado num convento centenário no centro histórico de São Luís, para que os visitantes pudessem consultar online documentos como despachos assinados por Sarney na época em que ocupava o Palácio do Planalto. Até ontem, não havia um único computador à disposição dos visitantes.


Nos últimos dias, o Estado analisou notas fiscais e percorreu os endereços das empresas que a fundação afirma ter contratado para prestar serviços ao projeto. Na relação de despesas, foram anexados até recibos da própria entidade para justificar o saque de R$ 145 mil da conta aberta para movimentar o dinheiro do patrocínio.


RECIBO


Em recibo de 23 de março de 2006, em papel timbrado da fundação, Raimunda Santos Oliveira declara ter recebido R$ 35 mil por "serviços prestados de elaboração do projeto de preservação e recuperação do acervo" do museu. Procurada ontem pelo Estado, ela disse que já trabalhou na fundação, mas nos anos 90. "Eu trabalhei lá de 1990 a 1995", disse. Sobre o recibo, não quis comentar: "Não sei do que você está falando."


A lista de empresas que emitiram as notas revela atuação entre amigos no esforço para justificar o uso do dinheiro. Uma delas, a Ação Livros e Eventos, tinha como sócia até pouco tempo atrás a mulher de Antônio Carlos Lima, o "Pipoca", ex-secretário de Comunicação da governadora Roseana Sarney (PMDB) e atual assessor do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, aliado da família.


Das 34 notas fiscais emitidas pela Ação, que somam R$ 70 mil, 30 são sequenciais - é como se a firma tivesse apenas a Fundação José Sarney como cliente. Mais: uma das sócias, Alci Maria Lima, que assina recibos anexados à prestação de contas, nem sabe dizer que tipo de serviço a empresa prestou. "Eu assinei o recibo, mas não sei o que foi que a empresa fez, não."


"Pipoca" é irmão de Félix Alberto Lima, dono de outra empresa, a Clara Comunicação, que teria prestado serviços ao projeto da fundação. As notas da Clara totalizam R$ 103 mil.


Ao Estado, Félix Lima disse num primeiro momento que prestou serviços de divulgação das atividades da fundação. Ele não soube explicar a relação disso com o projeto patrocinado pela Petrobrás. "Não sei de projeto, me chamaram para fazer esse trabalho e cumpri isso profissionalmente", disse. Mais tarde, em outro telefonema, tentou retificar o que dissera: afirmou que a Clara foi contratada para divulgar o projeto.


Outra empresa cujas notas foram anexadas na prestação de contas, o Centro de Excelência Humana Shalom, não existe nos endereços declarados à Receita Federal. Por "serviços de consultoria", teria recebido R$ 72 mil da Fundação José Sarney. À época, a Shalom tinha como "sede" a casa da professora Joila Moraes, em bairro de classe média de São Luís. "A empresa é de um amigo meu, mas nunca funcionou aqui. Eu só emprestei o endereço", disse Joila. Ela é irmã de Jomar Moraes, integrante do Conselho Curador da Fundação José Sarney e amigo do senador.


ENDEREÇO


Uma terceira empresa, a MC Consultoria, destinatária de R$ 40 mil, nunca existiu no endereço no qual foi registrada na Receita. Funcionários do prédio jamais ouviram falar dela. Na prestação de contas, há até notas referentes à compra de quentinhas num restaurante na rua do museu. A fundação pagou R$ 15 mil pelas marmitas. Pelo valor unitário, R$ 4,50, o restaurante teria fornecido mais de 3 mil quentinhas.


ENTIDADE DIZ QUE METAS DO CONTRATO FORAM CUMPRIDAS


O Estado S. Paulo – 9.7.09


Em resposta às perguntas encaminhadas pelo Estado no início da manhã de ontem, a Fundação José Sarney informou que foram cumpridas "todas as metas privilegiadas no contrato de patrocínio da Petrobrás". Argumentou ainda que as empresas de comunicação da família Sarney receberam recursos em razão da "média de audiência comprovada" no Maranhão. A resposta enviada ao ?Estado? é assinada pelo presidente da entidade, José Carlos Sousa e Silva.


Ele confirma que R$ 100 mil foram repassados a uma "conta administrativa" da fundação. Alegou que o recurso foi usado para "pagamento de projetos". Informa ainda que os outros R$ 45 mil transferidos a essa conta paralela foi um "remanejamento". O montante, explicou, foi devolvido logo depois à conta criada para o projeto. A Fundação José Sarney enviou ainda cópia do termo de recebimento de prestação de contas enviado à Petrobrás.


SEDE DE MUSEU É CENTRO DE DISPUTA JUDICIAL


O Estado S. Paulo - 9.7.09


O museu que José Sarney montou no histórico Convento das Mercês, construído em 1654, é um monumento à auto-exaltação. Quem passeia pelos corredores largos do prédio centenário, com piso de madeira cuidadosamente lustrada, depara-se com fotografias de família, presentes que Sarney ganhou quando era presidente e quadros que emolduram as capas dos livros escritos por ele, dentre os quais O dono do mar - na versão dos adversários políticos, "O dono do Maranhão".


A sede da entidade é foco de disputa judicial. Em 15 de junho, a Justiça invalidou a decisão que repassou o convento para a Fundação José Sarney, determinando a devolução ao patrimônio do governo estadual.O Ministério Público Federal alega que a entidade tem fins particulares, por abrigar o acervo do parlamentar. Considera, por isso, que foi ilegal a doação do imóvel, em 1990.


Na época, o governo do Maranhão editou uma lei que autorizava a incorporação do convento aos bens da fundação, então denominada Fundação da Memória Republicana. A Assembleia Legislativa do Maranhão aprovou três anos depois uma lei confirmando a doação.Membro da Academia Brasileira de Letras e autor de 13 obras, Sarney tem apreço pelo mundo literário e cultural. Ele preside o Conselho Editorial do Senado. O vice-presidente é Joaquim Campelo, membro do comando diretivo da Fundação José Sarney.


INFLUÊNCIA DO CLÃ SARNEY PÕE DIRETOR DE MUSEU NO TRE


O Estado de S. Paulo – 9.7.09


Desde que a Fundação José Sarney foi criada, em 1990, o senador José Sarney destacou um velho amigo, o advogado José Carlos Souza Silva, para tocar o museu. É ele quem assina os documentos enviados ao Ministério da Cultura para pedir o patrocínio e, depois, os relatórios destinados a justificar como foi gasto o dinheiro.Com a ajuda do poder do senador amigo, Souza Silva acaba de ser escolhido juiz do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Maranhão. A nomeação só depende da assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Até ontem, Souza Silva figurava no site oficial da fundação como presidente da entidade. Como juiz do TRE, ele reforçará a bancada de magistrados ligados à família - desde o ano passado, o tribunal tem como presidente a desembargadora Nelma Sarney, casada com Ronald Sarney, irmão do senador.


Procurado pelo Estado há três semanas, Souza Silva não quis falar sobre a execução do projeto patrocinado pela Petrobrás. Indagado sobre o assunto, ele não confirmou nem negou que as metas haviam sido alcançadas. "Eu não vou falar sobre isso", disse. Em seguida, indagou. "Você acha que alguém aqui roubou o dinheiro?"


Anteontem, o Estado esteve no museu. Ao final da visita, pediu para falar com o responsável pela fundação. Souza Silva não estava. Quem respondia pela entidade era o diretor executivo, Fernando Silva Belfort.
Em um primeiro momento, uma funcionária disse que ele atenderia a reportagem. Em questão de minutos, outra empregada avisou que ele tivera que sair às pressas e não poderia atender. Belfort é um dos funcionários do museu que estavam pendurados na folha de pagamento do Senado. Por um ano e sete meses, recebeu R$ 3 mil como assistente da ex-senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), sem sair do Maranhão.